Quinta-feira, Novembro 30, 2006

Daren & Mariana - IV

(as partes 1, 2 e 3 desta história, estão mais para baixo)

Relembrando o capítulo anterior:


Descendo a escadaria que dá para o jardim, vemos chegar
Daren Ross, vestido com um smoking que lhe cai impecável e
perfeitamente. Ele olha em volta como qualquer pessoa que
chega sozinha e um pouco perdida a uma festa.

PEDRO
Minha mãe...de onde surgiu aquilo
tudo?

MARIANA
The Edge...

PEDRO
Que Edge?
(olhando outra vez para a escada)
THE EDGE?? O cara? O primata ogro
troglodita? Você ta brincando...

MARIANA
Não to. É ele.
(...)

Mariana e Pedro andam até o bar, mas Mariana não consegue
tirar os olhos de Daren.

PEDRO
Olha pra frente, mulher?

MARIANA
Por que que eu to chocada?

PEDRO
Hm...vamos ter problemas...
(para o garçon)
Champagne por favor.

MARIANA
Conhaque. Duplo.

PEDRO
Mariana?

MARIANA
Ai. To com frio...da licença?

PEDRO
Isso ta com cara de calor, amiga...na bacurinha!

MARIANA
Meu deus que frase! Você não disse isso...

PEDRO
O que? Calor na bacurinha?

MARIANA
Pedro! Que coisa mais Clodovil! Vê se eu tenho cara
de quem actually TEM uma bacurinha!

PEDRO
(medindo de cima a baixo)
Well...

Mariana bate nele com a bolsa. Ele ameaça gritar.

PEDRO
Para que eu vou chamar o troglô!

MARIANA
Cala a boca, Pedro?

PEDRO
Ele já ganhou, Dona Bacurinha. Pode escrever. Daqui ha uma
semana você vai ta comendo um caminhão pelo troglodita.

MARIANA
Imagina...Nunca. Ele é grosso.

PEDRO
É...E brilhante, e engraçado, e rápido, e lindo.
Tudo o que você gosta.

MARIANA
Troglodita.

PEDRO
Chiquérrimo.

MARIANA
Cafa da pior espécie.

PEDRO
Grande.

MARIANA
E escandaloso.

PEDRO
Cheiroso.

MARIANA
Quem disse?

PEDRO
Meu nariz...

MARIANA
Hein?

PEDRO
(falando baixo há centímetros do nariz dela)
Lado esquerdo, olhando pra você, sua anta!

Mariana olha para a esquerda, ao lado de Pedro, e lá está
Daren, olhando para ela com seus olhos azuis cheios de
faíscas e seu meio sorriso irresistível.

DAREN
Max.

MARIANA
Edge...

DAREN
Como você veio parar aqui?

MARIANA
Era o que eu ia perguntar. Conhece o Pedro, meu amigo?
Pedro, esse é o The Edge.

DAREN
Prazer, Pedro...Daren.

Pedro aperta a mão de Daren sem dizer uma palavra, olhando
de cima a baixo e balançando a cabeça positivamente, irônico.
Mariana dá um cutucão nele para parar.

DAREN (CONT'D)
Eu conheço a Dina desde que nasci, mas não
sabia que ela conhecia gente que não está
empalhada...

MARIANA
Ai que horror! Nem é tanto assim. Ela é minha
amiga há muitos anos. Por que que eu nunca te vi nas
festas dela?

DAREN
Porque eu nunca vim. Era festa de velho... Mas aí eu
também fiquei velho.

MARIANA
Ha! Idoso...

DAREN
Sério. Já to até numa aula de dança de salão.
A terceira idade pode chegar a qualquer momento
e eu vou precisar pegar umas velhinhas.

PEDRO
(para mariana)
Eu adoro ele!

MARIANA
Então...as amigas da Dina podem ajudar você nisso:
as empalhadas...

DAREN
Eu sei. Olha aquela ali, por exemplo...
(apontando para uma mulher quase centenária
maquiada como a Derci Gonçalves)
Não é uma gatinha?

MARIANA
(rindo)
Wow...seu número!

PEDRO
Gente, que maldade..

DAREN
Maldade? Essa garota não tem mais esperança nem de
encontrar alguém que empurre a cadeira de rodas dela
de graça. Se eu propuser um jantar romântico, ela morre
feliz! Isso é solidariedade!

PEDRO
Garota...

MARIANA
Ui...imaginei a cena depois do jantar. Que horror...Sexo
bizarro!

DAREN
(para Pedro, apontando para Mariana)
Ela ta avisada que não vai ter esse corpinho e essa pele
lisinha pra sempre?

PEDRO
Eu vivo avisando...

MARIANA
Mas eu nunca vou ficar assim.

PEDRO
Continua fumando, bebendo, levando essa vida impura!

MARIANA
Impura? Ai que mentira!

PEDRO
(cochichando para Daren)
Promíscua!

DAREN
É mesmo? Me conta mais...

Pedro se aproxima de Daren e começa a falar baixo...

PEDRO
Nossa...ela toca um horror. Você nem imagina...
Drogas, homens, festas...

MARIANA
Pedro?? Como assim?

DAREN
Eu tinha certeza...

MARIANA
Hey!

DAREN
Esse olharzinho de despreso nunca me enganou.

MARIANA
Que olhar de despreso?

DAREN
Vem dançar comigo que eu te conto.
(para Pedro)
Vou salvar a alma dessa criança.

Mariana olha para Pedro com cara de "cala a boca!", e vai
para a pista de dança com Daren. Pedro levanta o copo num
brinde e sorri para os dois.

PISTA DE DANÇA NO JARDIM

A sequência de músicas era eletrônica, mas assim que os
dois pisam na pista animados, a banda recomeça a tocar com
uma sequência super mellow de músicas lentíssimas.

DAREN
Droga...não vou mais poder mostrar o que eu aprendi nas
aulas de dança.

MARIANA
Você faz mesmo dança de salão?

DAREN
(soltando sua gargalhada escandalosa)
Claro que não. Mesmo que eu tivesse tempo pra isso,
eu já nasci bailarino profissional.

Ele gira Mariana e a joga sobre seu joelho num passo de Tango.

MARIANA
Impressionante!

DAREN
Porque você me odeia?

MARIANA
Eu não te odeio. Estou dançando com você.

DAREN
Odeia sim. Ta dançando por caridade.

MARIANA
Ah...claro.

DAREN
Mas eu sempre te defendi, você sabe, ne?

MARIANA
Não sei nada. Quando?

DAREN
Você não sabe que a minha conta na internet foi deletada
por que eu te defendi?

MARIANA
Não! Quando isso?

DAREN
Há uns meses. Eu entrei naquele forum sobre diretores
que virou uma zona...

MARIANA
Que fala de tudo menos de cinema? Sei qual.

DAREN
Lembra que tinha um post logo depois de um seu, do Chaz,
que dizia que era incrível como alguém ganha voz ativa só por ser
uma loira gostosa?

MARIANA
Não! De quem ele tava falando?

DAREN
De você.

MARIANA
Que é isso? Que garoto grosso. Loira gostosa é a mãe dele!

DAREN
(soltando outra gargalhada)
Okay, o garoto é grosso, mas não é cego! Todo mundo sabe
que você é a "official hot blonde" da sala.

MARIANA
Que decepção. Eu achava que lá fosse o único lugar onde eu
podia ser só um cérebro e não uma bunda com um cabelo loiro.

DAREN
Mas é isso que faz todo mundo adorar você.

MARIANA
Ah...obrigada. Acabou comigo de uma vez.

DAREN
Não! Você não entendeu...não a bunda...é o que você diz,
a sua inteligência. Você é uma garota incrível. E claro que
tem a coisa da bunda...

MARIANA
Dá pra parar?

DAREN
Desculpa...mas não dá pra negar. Mas ninguém sabia que você
era assim...bonita... até você aparecer ao vivo, Max. Aí dançou...
hot blonde it is.

MARIANA
Menos mal. Mas por que você foi deletado? Não entendi.

DAREN
Porque eu fui mais grosso do que o cara pra te defender e alguém
se queixou de "palavreado xulo de baixíssimo calão". Ferrou. Me
puseram de castigo.

MARIANA
Nossa...desculpa hein..

DAREN
Desculpada.

MARIANA
(abaixando a cabeça)
Por eu não ter gostado de você?

DAREN
Por isso também...Eu sou gordo, feio e grosso.

MARIANA
Ai! Ela te contou? Que idiota!

DAREN
Que diferença faz? Você tinha me odiado mesmo...

MARIANA
Agora eu to morrendo de vergonha...

DAREN
Por que?

MARIANA
Porque eu prejulguei você. Eu vi a Janete no seu colo,
achei aquilo tão de última...E meio mundo já ficou com você...
acabei achando você um absurdo.

DAREN
Eu nunca fiquei com ninguém do chat. E a Janete é louca.
Você sabe disso, não sabe?

MARIANA
Sei um pouco.

DAREN
Eu não podia derrubar a garota no chão. Ela veio sentando no meu
colo...eu sou educado.
(pausa)
E não existe essa coisa de ficar com todo mundo. Elas adoram jogar
esses boatos no meio do chat, porque os caras ficam com ciume.
Tudo balela.

MARIANA
Será que eu sou tão inocente assim que acredito em tudo?

DAREN
Você é muito diferente da maioria daquelas mulheres, Max.

MARIANA
Não sei...eu me divirto tanto, que talvez eu não seja tão
diferente delas assim. Mas eu sempre soube que você é uma
galinha.

DAREN
Mentira. Esquece.
Então...todo mundo lá tem Q.I. superior;
é por isso que a gente adora. Mas você é diferente.
Não entrou na loucura deles. Você ainda é uma
pessoa normal.

MARIANA
Burra?

DAREN
Claro que não.

MARIANA
Todo mundo tem Q.I. superior e eu sou diferente...

DAREN
Diferente na maneira de viver.Você não se detonou como eles.

MARIANA
Ta certo...O que será que fez isso com eles?

DAREN
Não sei. Falta de sexo talvez.

MARIANA
Como assim?

DAREN
Você acha que, quem tem com quem transar, passa 15 horas por dia
na internet?

MARIANA
É...Faz sentido.

DAREN
Fora um ou outro, todo mundo ali é solteiro, divorciado, mal
casado ou maluco.

MARIANA
Onde você se enquadra?

DAREN
Maluco.



HORAS MAIS TARDE

Daren e Mariana estão sentados numa mesa à beira da pista. A banda toca músicas de final de festa, um casal já meio desarrumado ainda dança.

MARIANA
Eu vim pra cá porque lá não tinha mais condições. Sabe quando o
teto bate na sua cabeça?

DAREN
Sei. Aqui é o lugar perfeito na sua área. Nunca vai faltar
trabalho.

MARIANA
Bem isso.

DAREN
Você é boa no que faz?

MARIANA
Sei lá. Eles me pagam...
(rindo)

Pedro se aproxima.

PEDRO
Casal bonito...eu vou embora.

MARIANA
Não! Espera.

PEDRO
Não não...já deu. Bebi toda champagne que tinha no bar.
Agora vou pra casa ver Discovery Channel que tem um documentário
sobre o Homem de Neandertau que eu não posso perder.
Tchau crianças. Juízo.

Pedro está trocando as pernas, com a camisa para fora, o
paletó arrastando no chão e a gravata borboleta a tiracolo.

DAREN
Tem certeza que você está bem?

PEDRO
Opa!

MARIANA
Não. Eu vou te levar pra casa.

PEDRO
Nem pensar! Não vou deixar meu carro novo aqui. A Dina pode
vender no e-bay pra fazer outra festa.

MARIANA
Amanhã a gente pega o seu carro.

PEDRO
Nunca! Meu carrinho não! Eu vou pra casa com o MEU carro novo.
Você tem um carro novo, The Edge?

DAREN
Não...mas eu posso levar o seu carro novo pra sua casa.

Mariana olha para Pedro que encosta a testa na testa dela e
sussurra alto demais:

PEDRO
Casa com esse cara senão eu caso.

MARIANA
Fica quietinho, meu amor, fica?

PEDRO
Ele é um troglo-fofo...um fofo-sapiens!

MARIANA
Pedro, pelo amor de deus, cala a boca.

Daren olha para baixo sorrindo, fingindo que não escutou os comentários de Pedro.

MARIANA
(pra Daren)
Sério que você leva o carro dele?

DAREN
Claro.

MARIANA
E o seu?

DAREN
Você me traz de volta, pode ser?

PEDRO
(encosta outra vez em Mariana)
Fo-fo-fóssil.



INT. NOITE - APARTAMENTO DE PEDRO

Mariana entra acendendo as luzes enquanto Daren carrega
Pedro até o quarto. Os dois arrumam Pedro na cama. Mariana
tira os sapatos dele, Daren tenta tirar a gravata borboleta
que estava a tiracolo e embolou no braço, mas Pedro agarra
seu pesoço e puxa sua cabeça para perto para cochichar.

PEDRO
Neander-fofo...ela mente. Ela disse que você era o Shrek! Um
monstro! Você tem que ficar com ela pra se vingar!
(cochichando dentro do ouvido do Daren)
Essa mulher é mimada. Ela precisa de um homem de verdade.

DAREN
Pode deixar. Agora dorme aí, cara.

MARIANA
O que ele disse?

DAREN
Agradeceu.

MARIANA
(beijando a testa de Pedro)
Que amor. Dorme bem, meu anjinho. Amanhã eu ligo pra ver
como você ta.

PEDRO
Isso! Me abandona! Me troca pelo fofo-sapiens!

MARIANA
Boa noite, Pedro.

DAREN
Boa noite.

PEDRO
(gritando)
Me deixem virar um fóssil abandonado aqui nesse mundo
mezozóico de vocês!

Mariana e Daren apagam as luzes e saem do apartamento.

EXT. NOITE - RUA DA CASA DA DINA - CARRO DA MARIANA

MARIANA
Então ta. Obrigada mesmo, viu?

DAREN
Imagina. Sempre que precisar aprender a dançar, ou tiver um
amigo bêbado, que saiba tudo da evolução do homem, pra
carregar...

MARIANA
Ta. Se acontecer eu te ligo.

DAREN
A gente se fala online?

MARIANA
Claro.

Daren sai do carro, da a volta e se apoia na janela de
Mariana.

DAREN
Ainda me odeia?

MARIANA
Nem um pouquinho.

DAREN
Fui grosso com você?

MARIANA
Nem.

DAREN
Feio e gordo okay,eu aceito.

MARIANA
Nem é.

DAREN
Se cuida?

MARIANA
An-hã. Você também. E obrigada de novo.

DAREN
Nada.

Os dois se olham fixamente e não conseguem se mexer.

MARIANA
Vai embora.

DAREN
Não consigo.

MARIANA
Vai, Edge.

DAREN
Ta...Max.

Daren vacila um pouco, se aproxima para beijar Mariana, ela
fica sem graça, ele se afasta, se aproxima novamente e a
beija na testa. Os dois sorriem olhando dentro dos olhos:
os olhos azuis cheios de faíscas de Daren dentro dos olhos
castanhos iluminados de Mariana.

DAREN (CONT'D)
Tchau. Vai embora. Sai!

MARIANA
Foi grosso agora.

Daren passa a mão no cabelo dela...

DAREN
Eu nunca vou ser grosso com você...é brincadeira.

MARIANA
(segurando a mão dele)
Eu sei. Tchau. A gente se fala.

Daren dá um passo atrás. Mariana arranca o carro.



CONTINUA...

Quinta-feira, Novembro 23, 2006

A lenda da chuva

Lembrei de uma história que escrevi quando criei o inicio do romance entre Clarence e Mike no roteiro do Touching the Clouds.
Era uma noite de chuva, a luz acabava, Clarence contava para o Mike uma historia de infância.
Pra contar esta história é preciso contar antes uma outra. A minha:
Lembrança boa é coisa que vai sendo construída pela família. Não todos os dias, mas em dias especiais. Assim eu entendo hoje, depois de ter visto a vida passar, e tendo as lembranças como referência: um tipo de bússola que te conta de onde você veio, pra que você não se deixe perder no caminho. Pode ser que tudo venha com um pouco de fantasia. Mas pra que servem as mentes infantis, senão pra trazer para o mundo adulto um pouco de magia?
Uma das minhas lembranças mais nítidas da infância são as noites de tempestade em que a luz acabava.
Minha mãe era uma morena linda, com traços de cigana, cabelos ondulados muito pretos, olhos grandes de jabuticaba e a sobrancelha mais imponente que alguém já teve. Cara de mulher poderosa...Sempre muito austera...Mas se havia um momento em que a austeridade desaparecia, era na hora do medo.
Medo foi sempre um sentimento respeitado na minha casa graças a ela, ex-criança medrosa.
Com o pavor que tinha do mar, ensinou os quatro filhos a mergulhar, nadar e pular onda. (Só soubemos deste medo depois de grandes). Com o medo que tinha de espíritos e fantasmas, nos ensinou a ser fortes e destemidos.E a rezar. E do medo que tinha de escuro criou as historias e fantasias que até hoje dançam em nossas cabeças.

Em noite de tempestade, minha avó rezava para Santa Bárbara sem parar, mas ela mesma vivia dizendo que as pessoas só lembram de Santa Bárbara quando troveja! Rezava e fechava as janelas, mostrando pras crianças da casa que algo terrível estava pra acontecer.
Uma noite, caiu uma tempestade. Muito trovão, muito vento, chuva forte...
Eu estava no quarto, me preparando pra dormir quando a luz apagou e eu fiquei em pânico! Comecei a chorar alto e chamar a minha mãe. Nessas horas de medo, parece sempre que a família toda fugiu e o mundo vai acabar no escuro! Mas não...Minha mãe aparecia do nada, me levava pela mão até a sala de jantar onde já tinha acendido velas.
Sempre uma visão mágica essa. As chamas tremulando...A luz e as sombras se mexendo...Os móveis não parecem os mesmos...A sua mãe fica mais bonita...
Ali, naquele lugar meio mágico meio misterioso, ela me explicou os porquês da tempestade.

Eu cresci e preferi assim:
Era uma vez a Chuva. Uma mulher linda, jovem, com cabelos feitos de longos fios de prata esvoaçantes, enfeitados de cristais.
Ela amava um homem chamado Trovão mais que a tudo no mundo. Ele - Trovão – era lindo: cabelos claros de luz, corpo forte, alma iluminada, sorriso radiante. Ele amava a Chuva e seus cabelos de prata mais que à própria vida.
Um dia, o Trovão viu a Chuva sorrindo para o Sol, que se exibia, tentando conquistá-la. O Sol, esse egocêntrico, que acha que tudo gira em torno de si, quis a chuva só pra ele. Para impressioná-la, criou um enorme arco-íris, o maior de todos, o mais perfeito e deu a ela de presente.
Vendo aquilo, o Trovão percebeu que não seria capaz de dar a ela nada tão grandioso. Sentiu a mãe de todas as raivas! Uma tristeza profunda...Um ciúme horrível! Se não amasse tanto seria capaz de explodir o universo!
Mas seu amor pela Chuva era tão gigantesco, tão maior que o ciúme, que ele não podia sequer pensar em machucá-la. - Nem a ela, nem a nada que a agradasse. Assim, o Trovão explodiu em raios, relâmpagos, e luz, fazendo muito barulho e perdeu sua forma para sempre.
A tristeza da chuva será eterna. A saudade enorme. Mesmo que trovão a perdoasse eles não poderiam ficar juntos jamais, porque ele não poderia voltar a ter sua forma humana.
Assim, muito tempo depois, a Chuva casou-se com o Sol que, sabendo-se culpado pela tristeza dela, nunca parou de tentar agradá-la.

Até os dias de hoje, os raios e trovoadas acontecem quando o Trovão está triste, tentando voltar à sua forma humana para matar a saudade que sente da Chuva.
Ela, ouvindo seu desespero, chora lágrimas de cristal e deixa voarem seus cabelos de prata.
Mas tudo se acalma quando o Sol prepara um lindo arco-íris e dá de presente à sua amada para que ela pare de chorar...


Texto escrito em Janeiro de 2005, baseado na Lenda da Chuva - parte da história "Thouching the Clouds" de 1997.
Foto antiga da minha mãe by Amaury Gameiro - 1954
Foto do guarda-chuva by MgMyself - 2005




Genial, genial!


Tem coisas que eu invejo, e eu queria ter feito.
Acho incrível...não sei se por eu ser uma computer freak
ou se porque é genial mesmo que eu não fosse.

Não sei quem é essa criatura. mas sei que ele me parece louco, desocupado e genial.

Quarta-feira, Novembro 22, 2006

AHHHHHRGH! CANSEI!

De tempos em tempos eu tenho um surto de talento e habilidade que deve vir de alguma entidade entediada que me usa!
Quando eu estava grávida do primeiro filho, fiquei prendada...resolvi que precisávamos de um Nata de casa de avó, com pinheiro natural e enfeites fofinhos; afinal a primeira criança da família já tinha um ano, e havia duas barrigas na família - a minha e a da Pat.
Pois comprei feltro, linhas de bordado, estrelas brilhantes e sei lá mais o que, sentei na máquina de costura e fiz todos os enfeites da árvore natural que eu exigi! Papai noel, anjinho, botinha...tudo bordadinho e fofinho.
Até aí está lindo. Agora...se eu sentar hoje na máquina de costura, não vou saber como coloca linha na agulha.

Mais tarde eu desenhava...carvão e pastel. Fazia retratos incríveis e não sei desenhar mais nada. Ainda tenho uns guardados aqui. Fiz um mega quadro maravilhoso pra um namorado, com o rosto dele muitas vezes, misturando colagem e desenho...imagina...sou incapaz!

Teve a época dos vasos. Mania de pintar vasos. Começava às duas da tarde e esquecia de jantar, quando via eram 4 da manhã e eu estava pintando. Às vezes ficava na piscina de manhã, quando olhava para minha mesa de trabalho sentava lá pra pintar...de repente era madrugada e eu estava de bikini e avental, inteira picada de pernilongo. Milhares de vasos...Depois mais enfeites de natal. Suplats, coroas, tudo de madeira, meio country, um trabalho desgraçado....pintei milhares deles e ainda estão todos aqui. Agora...não sei o nome das tintas, não lembro a ordem das coisas , não tenho paciência para pintar.

E o tempo vai passando...e eu resolvo fazer tortas, profiteroles, massa folhada, geléia de frutas vermelhas que deu errado e virou o melhor sorvete do mundo...Não lembro mais como faz.


Há 10 meses, a AOL fechou no Brasil virando as costar para o TPM, meu falecido e amado blog. Em desespero, comprei o domínio "caixapreta.com.br" e espalhei para o mundo que eu teria um super site. Colunistas fantásticos: Marytza Van Der Osten & Roberto Roberti.; Conselhos sexuais de Aninha do Taradão; link para fotos, concurso de fotos dos leitores, etc, etc, etc...
Ah ta...sei...então? Então pedi para um super webdesigner layoutar o caixa preta. Ele me apresentou duas opções: o site da imobiliária moderninha e uma outra coisa que era estranha mas tinha uma borboleta. Opa! Eu expliquei tantas vezes....
Isso me lembra uma história do Zé Buffo sobre os olhos de quem ouve: Você chega no cliente com um roteiro e começa a contar pro seu cliente..."imagina uma morena maravilhosa, super corpão, pele linda, peitos perfeitos, pernas perfeitas, cabelos negros, bocão...."
E o cliente empolgadésimo adivinha: "Sei! A Gretchen!"
Pois é...e você falando da Angelina Jolie....

Foi mais ou menos essa a minha experiência brifando meu site. Até uma iguana apareceu num dos layouts. Hello?? Alguém sabe o aflição que eu tenho só de olhar pra uma iguana?
Depois, meu amigo, meu parceiro, meu querido, meu conterrâneo de Pleiades - PL Lemos - me mostrou um anúncio que ele fez pra Arcor (Fruit Nuts). Eu olhei pro layout e quase enfartei! Era o que eu queria! "Não apresenta essa campanha! Faz outra! Dá isso pra mim!!" - não colou... :(
Implorei pro PL fazer o layout do caixa pra mim. Mas assim...quase de joelhos. Ele até começou, e já no primeiro layout eu fiquei feliz demais! "Então ta...então vamos fazendo...vamos sim..." Hah! Quem disse que esse maluco tem tempo pra alguma coisa?
Impossível. Os meses passaram e a gente falava: "vamos nos ver pra falar do site? " Nada aconteceu.

Essa semana, tive dois ataques simultâneos:
1. Ataque de CHEGA!
2. Ataque de talento.
Vish! Resolvi descobrir como faz pra mudar o template do Blogger. Pesquisei feito uma doida, porque tudo existe meio pronto, e tudo o que é meio pronto é meio nada...e resolvi descobrir como funciona o Adobe Go Live...e o Image Ready...e PL socorro! Como faz pra fazer um botão no photoshop? E a Natasha me mostrou umas ferramentas de photoshop que ela baixou pra mexer nas montagens dela. Ai ai ai. Baixou a entidade! Veio a Maria Padilha Webdesigner e não me largou enquanto eu não terminei! (ou vocês acham que eu faria tudo tão coloridinho?)

Duas noites sem dormir, mas eu e Padilha descobrimos tudo o que precisávamos para colocar no ar o Caixa Preta como eu queria. Claro que sem o PL e o Diogo eu não teria ido tão longe...eu queria fazer uma coisa, sabia o que usar mas não sabia como...me bati um monte até que o diogo chegou, olhou... "Ah...jura que dá pra fazer isso assim, mãe?" Sentou dois minutos e descobriu como. Que alívio! Odeio pensar Angelina Jolie e ter que fazer Gretchen!

Pois bem...here you are!
Não está completamente pronto. Falta eu juntar todos os textos do TPM numa página, para aquele link pro TPM começar a valer e quem quiser poder reler coisa velha. Faltam algumas bobagens que eu ainda quero colocar na página dos links...Já tem música , Marilia, é só procurar direito...E logo logo vai estar tudo bem lindo.

Mas então...era o que eu tinha pra dizer: baixou a Padilha Designer, trabalhei feito uma doida, não dormi nem comi direito dois dias, e estou detonada! Detonada e feliz demais com o resultado.
Em três meses eu não vou ser capaz de digitar um código HTML, ou editar uma página em programa nenhum.

Acontece...
Comigo, o tempo todo.

Beijo beijo

I hope you enjoy

Sexta-feira, Novembro 17, 2006

Eu que sou chata??

Acordei, tomei café e 6 comprimidos de coisas pra arrumar uma coisa e estragar outra -- um arruma a tireóide mas resseca a pele, outro salva a pele mas detona o bolso, outro não deixa reter líquido mas baixa a pressão ... Ta rindo de que? Eu tenho 45 anos! Você pensa que a gente não tem prazo de validade?
Bem...fui pro banho, me arrumei pra treinar - sim eu tomo banho antes do treino e treino todos os dias, porque se o prazo dos músculos vencer tudo está perdido. Liguei o computador, pra ver se tinha e-mail, etc.
Ai meu saquinho!

Porque será que mulheres que passam dos 40 agem como meninas que não chagaram aos 15?
Eu entendo uma menina mandando pra toda a lista dela uma corrente bonitinha que garante que pelo menos 15 pessoas no mundo te amam..."mas se você não mandar esse e-mail pra 15 pessoas, nem duas vão lembrar que você existe". Será que o cérebro vence tão cedo?

Daí eu me pergunto: o que deu errado comigo?
Sim...porque alguma coisa deu errado. Eu não faço as coisas que as mulheres da minha idade fazem. Eu nem gosto das coisas que elas gostam.!
Eu não faço nem tricot! Não costuro, não colo guardanapo na vela, não vejo Anamaria Braga, Silvia Popovik, Adriane Galisteu, Luciana Gimenez, Amaury Junior, Sex in the City (oops...desculpa!). Não faço idéia nem do nome dos seriados da Globo, acho o Tiago Lacerda uma caca, não vejo nada no Marcelo Antony e muito menos no José Mayer que tem cara de dono de padaria. Não copio receita, não faço lanchinho pras amigas, não compro toalhinhas bordadas, não tenho suportes de inox de margarina, requeijão, guardanapo, garrafa, azeite, etc etc etc... Minha casa não tem nada de feng shui, meu quarto não guarda "segredinhos místicos para o casamento perfeito".
E mais do que tudo: Eu não repasso arquivos pps.

O famigerado arquivo ".pps" vai se transformar no ícone máximo da meia idade no início do século. Ainda vamos ver tratados sobre o comportamento de mulheres de meia idade relacionando o arquivo pps com uma existência miserável. "Depois dos 40. Do botox ao pps".

Por que elas lêm Lia Luft? Por que precisam de auto-ajuda? Por que precisam de filosofia barata? por que precisam mandar slides de garotões musculosos? Por que precisam analisar o tórax de algum cara bem feio que joga futebol? O que deu errado comigo? Onde elas estiveram e eu não, pra acharem tão bonito e tocante um slide show brega com uma trilha péssima e um texto sofrível? Eu lembro que estudamos na mesma escola, fomos aos mesmos clubes, mesmas festas, vimos os mesmos filmes, tínhamos familias mais ou menos do mesmo padrão...então...o que deu errado? Será que porque eu casei duas vezes a mais meu cérebro entrou em choque?
Será que porque eu fui trabalhar em publicidade eu reverti o processo da vida miserável? Será que lendo livros de cinema ao invés dos mais vendidos da Veja eu salvei meus neurônios da massificação do brega?
Ou eu que não sei viver? Ou eu que não sei dar valor para as coisas meia boca da vida e isso é falta de leveza e simplicidade? Hm...faz-me pensar!
Será que eu que tenho uma existência miserável por ter consciência do quão infeliz eu seria se tivesse? Acho que sim. Porque não é possível que elas tenham consciência da simplicidade básica, elementar, rasa, quase estúpida desse mal gosto global incrível!

Mas...acho que vi minha mãe penando com os mesmos assuntos, milênios antes da criação do primeiro PC. Lembro também de ver a revolta da minha irmã Bia, por ter escrito vários trabalhos sobre educação e pedagogia, mas só ter seu nome publicado numa Casa Claudia quando fez pátina azul num móvel antigo. Ela queria explodir um mundo que é fútil e raso. Mas de nada adiantou se revoltar...Recebeu milhares de encomendas de restauro de móveis.

É assim que se vive quando algo sai errado com a gente. Você não consegue combater o mundo da existência miserável, então usufrui dele e ainda ganha uns pilas.

Triste.
Não gosto de pensar que as mulheres do mundo se perderam. Prefiro achar que eu bati a cabeça quando era nenem.


Um beijo amigo no seu umbigo.

Terça-feira, Novembro 14, 2006

Having Friends

Terrible English version of this post
(it's an online translator thing. So...forgive me. It's awful)

Os anos passaram muito rápido, mas muita coisa se perdeu. Perdi amigos queridos, outros nem tanto...reencontrei amigos perdidos e amados demais. Meus filhos cresceram mais do que eu podia imaginar. Meus pais envelheceram. Suicidei minha carreira. Meus sobrinhos são homens e mulheres que eu amo. Meu filho é um grande homem correto que me orgulha. Minha filha é uma jovem mulher que eu adimiro e me alegra. Minha cidade não é mais minha. Uma nova cidade me adotou. Tenho mais rugas, mais músculos, menos cintura, cabelo mais longo. Tenho mais consciência. Sou mais criança. Sou mais leve.
Muitas coisas mudaram. Outras não me surpreendem. Eu tinha acabado de me mudar e sentiria uma falta tremenda dos meus amigos. Do Franc e suas bobagens engraçadésimas, da Pat Castilho que gargalhava da vida comigo, do Edson Perin que ria sem parar de qualquer pensamento nosso...Ai meu deus, como seria viver sem essas pessoas?
Era 1996. Longe de casa, eu entrava pela primeira vez na interner. Cliquei no ícone da America Online, abri uma conta, entrei. Passeando esbarrei na área de entretenimento e cliquei em "Hollywood Cafe".
O que encontrei foram Francs, Edsons, Patricias e muitos outros, conversando como numa grande Festa de Babette. Fiquei encantada, tentada a entrar no assunto, mas tinha medo de escrever, achando que meu inglês não dava pra tanto. Entrei um dia, outro, outro, outro...uma bela noite quando entrei alguém disse:"Hi, Mg". Seguido de muitos outros "Hi Mg's". Não havia nada que eu pudesse fazer a não ser seguir o impulso de responder. Foi aí que tudo começou. Foi aí que nasceram uma das melhores partes de mim - MgMyself - e as pessoas que mudaram a minha vida. Pessoas que ainda têm uma influência gigante no que eu penso. Era gente demais. Alguns brilhantes, outros ridículos, alguns de verdade outros fakes, alguns pavões outros maravilhosos. Alguns divertidos, outros só interessantes.
E ali eu fiz amigos. Muitos. Inúmeros. Ali eu descobri que as pessoas se tornam mais íntimas quando se conhecem na internet; consolei muita gente, dei conselhos, chorei, pedi conselho, reclamei...tudo como todo mundo faz hoje, mas naquela época parecia inconcebível. Acabei econtrando essas pessoas ao vivo várias vezes e um ano depois voltei para o Brasil.
Como o tempo que passa, as pessoas passaram. Mais uma vez, muitas se perderam mas um pequeno número ficou. Com essas eu troquei e-mails e instant messages durante 10 anos. Tão longe e tão perto, nós acompanhamos os crescimento dos nossos filhos, formatura de alguns, casamentos que acabaram e outros que começaram,tristezas, perdas, alegrias, natais...vida.
Mês passado eu tive a alegria de rever quatro das minhas amigas mais próximas e mais queridas: Mary Pat Cantrell, Bonnye e as indispensáveis, infalíveis Wendie Dox e Kim Zimmermann.
Todo esse histórico foi para dizer que existem coisas que a vida nos dá e jamais nos tira. Existem pessoas e amizades que são maiores do que qualquer distância.
Eu sei e elas sabem que haja o que houver estamos juntas, mesmo que do outro lado do mundo. Eu sei e elas sabem, que não há nada neste planeta ou nos outros que possa destruir o que construímos de longe, em bases tão absurdamente sólidas.

1. eu em Los Angeles em agosto/96
2. eu e Natasha em junho/97
3. eu e Franc em 98
4. festa de despedida - junho/96
5.
Kim e Mary Pat - outubro 99
6. Wendie e Hailey - outubro 99
7. Wendie, Molly, Hailey e Katie - outubro 2006
8. Kim e Beanie - outubro 2006
9. Eu, em 96, 98, 99 e hoje, 15/11/2006



About blur

Há muito tempo eu não fico triste. Muito! Meses. Nem sei quantos.
Ontem mesmo eu postei em outro blog dizendo que faz tempo que ando com um sorriso constante no rosto.
Eu já disse tanto isso, mas posso repetir: eu sou uma pessoa feliz por natureza. Qualquer prazer me diverte, eu vivo uma vida boa e plena.; eu tenho alegrias enormes e milhares de motivos para ser feliz; eu sinto coisas intensas, minha vida parece uma novela, a maneira que eu vejo os acontecimentos é divertida e quase lúdica. Resumo: sou uma débil mental irresponsável porque toda criança é feliz.

Mas hoje uma estranha núvem negra desceu aqui sobre a minha cabecinha doente. Uma nuvem com gosto de um passado sombrio - um tempo que eu não sinto falta...acontecimentos inexplicáveis...coisas fora de controle. Dor. Muita dor.
Por anos eu não entendi e não me conformei com os acontecimentos daquela época. Foi como se de um dia para o outro me tirassem o chão. Hoje estou em terra firme, amanhã não sei onde estou.

Então tudo o que é lindo hoje desaparece por completo amanhã?
Pra onde vão os sonhos que se perdem?
Pra onde vão os desejos que não se realizam?
Existe um depósito deles em algum lugar?
Quem guarda a porta do depósito?
Eu imagino uma pessoa muito triste, sentada perto da porta num caixote de madeira neste porão imenso de caixas perdidas e velhas - como o porão de um navio fantasma. As caixas têm nomes apagados para que se percam para sempre. O navio vaga num vazio imenso por séculos e séculos...mas ninguém sabe quem o comanda. E lá vai o navio das esperanças perdidas...

Ai ai ai...o bom disso tudo é que assim como eu fico tão triste e choro mais que os olhos, eu fico feliz amanhã por qualquer coisa boba, tipo encontrar uma manga cortada na mesa do café da manhã. Porque eu vou contar um segredo pra quem ainda não sabe: eu sou tão absurdamente intensa...tão profundamente exagerada...tão excessivamente tudo, que um dia me basta para sentir toda a tristeza do mundo. E é pesada a tristeza do mundo.

Só hoje. Só um pouco, eu quero silêncio.
Não há história que eu possa contar.
Não há nada que vá me fazer sorrir.
Mas passa assim que alguma coisa colorida passar na minha janela.


Morning, kids.

blur



Hoje eu estou triste...saco!

Segunda-feira, Novembro 13, 2006

Houston, we have a problem!

Ai ai ai, crianças...Daren e Mariana estão meio ferrados.
Meu companheiro, meu marido, meu diretor me perguntou o que eu estou escrevendo.
Eu disse sinceramente: uma bobagem sobre um casal.
Ele pediu que eu contasse.

Ok...abre um vinho, senta à mesa do jardim, acende um cigarro, põe as pernas em cima das dele e vambora.

Povo de meu deus! Não há de ver que o diretor quebrou as nossas pernas, arrasou Daren e Mariana, acabou com a nossa historinha?
Pois agora eu preciso da ajuda seríssima de vocês para poder continuar. Vamos fazer um exercício todos juntos e tornar esse lugar uma coisa realmente interativa. (se vocês toparem, é claro.)

Vamos aos problemas levantados pelo diretor-monstro:
1. História óbvia. "É claro que quando ele aparece na escada todo mundo sabe que eles vão se encontrar no bar. + Ridículo ele ser um bonitão...."
Ok...não vejo problema nisso. Em toda comédia romântica, filme água com açucar, etc etc, é muito óbvio que os personagens principais vão se encontrar. (isso que eu não fiz a bolsa dela cair no chão para ele pegar. hahaha)
SOLUÇÃO: Precisamos eliminar os "porque não". Ok...a chegada dele no balcão do bar foi óbvia demais... Podemos chamar isso de raciocínio 2. Vou explicar:

RACIOCÍNIO 1 - aquela primeira idéia que deve ser descartada imediatamente. Ex: ela derruba a bolsa, se abaixa pra pegar e as mãos deles se encontram, blablabla.
RACIOCÍNIO 2 - Ex: Ele se aproxima do balcão do bar sem que ela perceba, mas Pedro está vendo e tentando avisar para ela e não consegue porque ela não para de falar.
RACIOCÍNIO 3 - Ex: Ele está perdidão e nem sabe que ela está lá, mas Dina chama os dois para apresentá-los.
RACIOCÍNIO 4 - Ex: Na hora do Parabéns, Dina faz um discurso e agradece a seus dois amigos queridos sem os quais a festa não teria sido possível, e sua vida seria miserável: Mariana Ortega e Daren Ross. Só nesse momento os dois ficam sabendo que ambos estão pisando no mesmo chão.

(ta vendo como funciona? O raciocínio 4 já é muito melhor e menos óbvio do que o 1.)

PROBLEMA 2.
Segundo o diretor, aquela mulher que tem todo aquele discurso do poder feminino sobre o sexo oposto não pode ser a mesma que parece uma adolescente quando descobre que ele está na festa e é lindo, etc...
Bom...sobre isso eu tenho uma teoria: toda mulher nesta situação age como adolescente, ou pelo menos sente como adolescente. Acontece que o diretor é homem. Mas daqueles que jamais imaginaram como uma mulher (ou a sua: EU) funciona. Ele deve mesmo achar que eu sou uma fortaleza eterna, que nunca fui adolescente, ou frágil, ou boba, ou completamente idiota. Então, não acho que o problema 2 seja um problema de fato. (basta ver como o Sr. Diretor fica chocado com as reações da filha de 13 anos. Ele não faz idéia do que se passa na cabeça de uma mulher)

Mas enfim...o que acontece em grandes roteiros? Naqueles que grudam a gente na cadeira do cinema até o fim, ou nos levam às lágrimas ou aos ataques de riso?
R: Situações criadas em raciocínio 6, 8, 10!

Sobre o que é uma história boa? Sobre alguém que quer muito alguma coisa, mas o autor fica criando obstáculos para que ele não consiga até pelo menos o meio do 3º ato..

Pois então, crianças...estou contando com vocês. Amanhã, ou hoje à noite, vou publicar a parte IV da nossa novelinha como ela está. Tenham em mente que o nosso diretor não leu...apenas ouviu; talvez então eu seja melhor escrevendo do que falando, ou está mesmo uma grande droga. De qualquer forma, me ajudem a eliminar todos os RACIOCÍNIOS 1 da história, ok?


Contando com vocês...

Bom dia flores do meu dia!

Quinta-feira, Novembro 09, 2006

Daren & Mariana - 3 (só um pouquinho)

(as partes I e II estão mais para baixo)

EXT - NOITE - MANSãO DE DINA

A festa acontece em vários ambientes da mansão
extraordinariamente exagerada de Dina Reis. Quinhentos
convidados andam de um lado para o outro, dançam, bebem e
conversam. Mariana - linda num vestido incrível - mexe num
arranjo de rosas brancas e é interrompida por um abraço.

DINA
Ai Mari, to tão feliz! Tá tudo
lindo! Todo mundo adorando,
elogiando, perfeito demais!

MARIANA
Wow...obrigada. Falei pra você se
acalmar que ia dar certo?

DINA
Você é incrível, amiga. Não sei
como você consegue!

MARIANA
Muito gnoche de abóbora...

DINA
O que?

MARIANA
Long story! Vai aproveitar a sua
festa.

DINA
Droga que eu não te conhecia
quando casei, viu? Meu deus! Meu
casamento foi muito brega!

MARIANA
(cochichando)
Eu nem era nascida quando você
casou.

DINA
Shh! Fala baixo!
(virando para um
convidado)
Você veio? Que bom! Já viu a
Debbie e o Lu?

Dina recebe os convidados de maneira espalhafatosa,
com abraços e gritinhos. Mariana observa de longe sorrindo
e vai para o balcão do bar onde o celular toca.

MARIANA
Tem champagne?

GARçON
(apontando para a
pequena bolsa em cima
do balcão)
Seu telefone.

MARIANA
Ele nunca para.
(abrindo a bolsa)
Obrigada. Alo?

PEDRO
Come dance with me, babe.

MARIANA
Haha! Cadê você?

Mariana pega sua taça e começa a procurar por Pedro.

PEDRO
Eu sou o cara bonito ao lado do
chafariz.

MARIANA
Wow, será que eu consigo te achar
com esse endereço?

PEDRO
Me diz que não foi você quem
escolheu esse chafariz brega!

MARIANA
Não. E quem escolheu a sua roupa?

Os dois desligam os celulares, frente a frente.

PEDRO
(esticando o braço num
convite para dançar)
Um gatinho que ficou em casa
chorando porque não vinha comigo.

MARIANA
Aw! Que destruidor de coracões!
Porque não trouxe ele?

PEDRO
Porque hoje eu to macho demais!
Vou pegar você.

MARIANA
Meda! Sai desse corpo que não te
pertence!

PEDRO
Acho até que vou visitar meu pai
pra ele ver como eu to
hominho.

MARIANA
Ele ta melhor?

PEDRO
Ah. Não vamos falar disso hoje.

Os dois dançam rindo muito na pista do jardim. Quem olha de
longe pode jurar que são perdidamente apaixonados.

PEDRO (CONT.)
Bem boa essa banda. Quem é?

MARIANA
(olhando para a escada)
The Edge.

Mariana para de dançar.

PEDRO
The Edge é o guitarrista do U2.

MARIANA
(ainda olhando para a
escada)
Meu deus...o que é isso?

PEDRO
Como assim? O que é U2? Ta louca?

MARIANA
Não! Na escada!



ESCADARIA DO JARDIM NA MANSãO DE DINA

Descendo a escadaria que dá para o jardim, vemos chegar Daren Ross,
vestido com um smoking que lhe cai impecavel
e perfeitamente.
Ele olha em volta como qualquer pessoa
que chega sozinha e um pouco
perdida a uma festa.


PEDRO
Minha måe...de onde surgiu aquilo
tudo?

MARIANA
The Edge...

PEDRO
Que Edge? Você não para de
repetir isso!
(olhando outra vez para
a escada)
THE EDGE?? O cara? O primata ogro
troglodita? Você ta brincando...

MARIANA
Não. É ele.

PEDRO
Mari, ele é tudo!

MARIANA
Não é que ele é?

PEDRO
Porque você mentiu pra mim?

MARIANA
Eu não menti.

PEDRO
Como assim? Você disse que o cara
é um animal.

MARIANA
Acho que eu só não vi.

PEDRO
Não viu? É só olhar!

MARIANA
Ah. Deixa ele.

PEDRO
Acho que você precisa de um
drink.

MARIANA
Double.

CONTINUA...


Todos os direitos reservados © Mercedes Gameiro

Terça-feira, Novembro 07, 2006

Daren & Mariana - Outra parte

(a Parte I desta história está em outro post mais embaixo)

INT - DIA - COZINHA

O café está quase pronto na cafeteira, as torradas pulam
quase queimadas, uma colherada de cream cheese exagerada é
jogada e espalhada numa torrada quase preta. Café na
caneca, água no vaso com a flor na janela, a cortina abre,
o sol entra. Mariana fala ao telefone enquanto come, arruma
algumas coisas e se prepara para sair.

MARIANA
Não mãe. Eu não saí com ninguém.
Eu saí com um monte de gente.

Zum zum zum de voz feminina do outro lado da linha.

MARIANA (CONT'D)
Mãe, para de ver programa ruim na
TV! Não é perigoso sair pra
conhecer as pessoas da internet,
porque eu não saí sozinha. Era
muita gente.

Mais voz ao telefone

MARIANA (CONT'D)
Ai pelo amor de Deus! Que serial
killer mãe?

Zum zum zum de mãe.

MARIANA (CONT'D)
Bom...se for assim eu posso
escolher? Tinha uns dois
bonitinhos lá. Eu não me importo
de ser estuprada por um deles.

Zum zum zum histérico do outro lado. Mariana afasta o
telefone e da risada pegando a chave do carro.

MARIANA (CONT'D)
Um bejo mãe. Eu to atrasada. Se
você for no mercado toma cuidado:
o empacotador pode ser um tarado
que gosta de mulher de meia idade
com silicone.

Zumzum zum

MARIANA (CONT'D)
Beijo! Tchau!

Larga o telefone e sai.



EXT - CARRO

Mariana passa rimmel, lambe o dedo e arruma um borradinho
no olho, se olha no espelho retrovisor, dirige se arrumando
e o celular toca. A bolsa está aberta no console do carro
atrolhada de papéis, agendas, notas, maquiagem, e coisas de
mulher. Ela revira a bolsa procurando o celular. Um carro
passa e buzina forte por que levou uma fechada dela.

Mariana

MARIANA
O que idiota? Não tá vendo que eu
sou loira? Que saco! Respeita!
(atende o telefone sem
paciência)
Oi!


Pedro, amigo de Mariana, fala com ela ao telefone. A tela
se divide: Mariana no carro de um lado, pedro no escritório
do outro.

PEDRO
Fala, loira...

MARIANA
Tudo bem?

PEDRO
Tudo. E aí, foi lá ontem?

MARIANA
Fui. Tava muito engraçado.

PEDRO
Qual é a graça?

MARIANA
As pessoas. Todos aqueles nomes
andam, bebem e falam. Muito
esquisito.

PEDRO
E o seu amiguinho?

MARIANA
Oh...que ciumentinho...

PEDRO
Tava lá?

MARIANA
Claro.

PEDRO
E aí, rolou?

MARIANA
Imagina...

PEDRO
Deus me livre!

MARIANA
(rindo) Rolou nada, Pedroca! Nem
vai rolar. Você acha que aquela
paixão é de verdade? Ontem deu
pra ver bem quem ele é.

PEDRO
Gay?

MARIANA
Haha! Não, cafa mesmo. Maior
mulherada em volta dele. Ele
parecia um pavão.

PEDRO
E você?

MARIANA
Eu me diverti com as crianças.

PEDRO
Meu deus! Tem criança no seu
chat? Com aquele bando de tarado?

MARIANA
Ai, você parece a minha mãe! Que
tarado?? As crianças são os mais
novos. O João que tem 21, a
Carla...os engraçados. Os mais
velhos pareciam caçadores
desesperados.

PEDRO
Ah. Você me assustou.

MARIANA
Biba puritana!



EXT - DIA - ESCRITÓRIO DA MARIANA

O lugar parece um estúdio. Duas estantes enormes no meio da
sala estão cheias de flores, vasos, copos e louças. Mariana
entra e sua jovem e desengonçada assistente anda atrás dela.
Ela ainda fala ao telefone, apontando as flores que gosta,
os vasos que não gosta enquanto a assistente toma nota. As
duas se falam por mímica.

PEDRO
Mais alguém interessante?
Assim...alguém que ME interesse?

MARIANA
Ah tem. Um troglodita que é a sua
cara. The Edge!

PEDRO
Adoro! Ele toca guitarra?

MARIANA
Sei lá. Ele toca um horror!

PEDRO
Gatinho?

Mariana aponta para as rosas brancas, a menina gesticula
perguntando quantas. Ela faz um gesto que represente
MUITAS.

MARIANA
As meninas acham. Eu não vi nada
nele. Mas acho que você veria.
Ele é brilhante, fala coisas
hilárias na sala, tem um humor
delicioso, mas é um ogro!

PEDRO
Ta ficando cada vez melhor! Um
troglodita inteligente já me
serve.

MARIANA
Se eu fosse com a cara dele eu te
apresentava. Hahaha

PEDRO
Ah Mari! Não sacaneia. Vai
apresentar sim.

MARIANA
Ele é hétero!

PEDRO
Por enquanto, nenem. Deixa ele
provar a coisa...

MARIANA
Eu queria ver você cantando ele.
Hahaha!
(continua)
Biba amada da Mari...tenho que
desligar.

PEDRO
Vai lá. A gente se vê amanhã de
noite?

MARIANA
Claro. Já escolheu o figurino?

PEDRO
Vou de longo prata.

MARIANA
(gargalhadas)
Ui que bicha chique. O dia que
você virar travesti eu esqueço
que você existe. Que micão!

PEDRO
Vou lindo. Você vai querer me dar
uns beijos.

MARIANA
Oba! Beijo então. See ya.

Mariana desliga e começa a agir como se fosse a pessoa mais
mal humorada e durona do mundo.

MARIANA (CONT'D)
Seguinte: a Dina pediu muitas
rosas brancas. Todas brancas. Ela
quer enfeitar todo o jardim e a
área da piscina. Isso não dá nem
pro cheiro...Esse aparelho de
jantar é horrível.

A assistente tira os pratos feios e coloca numa caixa que
está no chão.

ASSISTENTE
Mas não tem mais rosa branca. O
cara só entregou isso e falou que
só vai ter semana que vem.

MARIANA
Então liga pra ele. Liga pros
outros fornecedores. Liga pro
Bush, mas consegue as rosas
brancas. Eu não quero a Dina no
meu pé se descabelando.

ASSISTENTE
(mostrando um outro
prato)
Esse?

MARIANA
Lindo.

ASSISTENTE
Porque você faz favor pra essa
mulher?

MARIANA
Porque ela me paga pelos favores.
E me convida pras festas, o que
acaba me dando mais trabalho e
mais dinheiro.

ASSISTENTE
Mas você não é promoter...

MARIANA
Vai ligar pro cara?

ASSISTENTE
E o que que eu digo? E se ele não
tiver? E se ele nem se importar?

MARIANA
Me dá esse telefone.

Ela disca, o telefone chama. Quando atende ela é doce e
sorridente.

MARIANA (CONT'D)
Oi amado! É Mariana. Tudo
bem?...Me rasgando de
saudade!...Vamos sim. Qualquer
lugar...o importante é a gente se
ver...
(pausa)
Meu amor, eu preciso de rosas
brancas...duas mil...pra amanhã
de manhã.
(pausa para ouvir)
Ah Marquito pelo amor de
Deus...eu tenho certeza que você
consegue pra mim. Eu tenho que
decorar 700 metros quadrados com
muita rosa branca amanhã. Please?
Você é a minha única esperança,
Marquito. Eu faço gnoche de
abóbora pra você, vai...
(pausa, risadas)
Como você é fácil, Marquito, que
coisa feia...
Tá bom então...depois a minha
assistente liga passando o
endereço de entrega. Eu te pago
lá na hora que chegar.
(pausa)
Não! Não com gnoche! (risos)um
beijo meu amor. Até depois.
Tchau.

Mariana desliga o telefone e desmonta o sorriso.

MARIANA (CONT'D)
Entendeu?

ASSISTENTE
Você vai cozinhar pro cara pra
ele conseguir as rosas pra festa
da sua amiga perua?

MARIANA
Não amore. Eu vou "prometer"
cozinhar pro cara. E ele vai
"achar" que vai ficar comigo.

ASSISTENTE
E não vai?

MARIANA
Não. Mas ele vai PARIR rosas pra
ficar.

ASSISTENTE
Mas e depois?

MARIANA
Depois eu fico super ocupada e
marco pra outro dia e o outro dia
não chega...mas ele continua
fazendo tudo pra mim. Entendeu?

ASSISTENTE
Entendi?

MARIANA
Lição numero 1: O mundo é
dominado pelos homens.
Nós dependemos da boa vontade
deles pra quase tudo. Um homem é
poderoso até querer fazer sexo
com você. Daí em diante, quem tem
o poder é você. USE!

ASSISTENTE
Mas e se ele não quiser?

MARIANA
Faz ele querer desde a hora que
você atende o telefone, quando
entra num lugar, quando sai do
seu carro, quando pisa numa
festa. Isso tem que vir de você.

ASSISTENTE
É?

MARIANA
É. Tem duas coisas que comandam o
mundo: Dinheiro e sexo. O
primeiro resolve todos os
problemas do homens. O segundo,
resolve todos os problemas das
mulheres com relação ao primeiro.

ASSISTENTE
Você transaria com alguém por
dinheiro ou poder?

Mariana senta no computador para conferir seus e-mails.

MARIANA
Nunca! Mas os homens que ajudaram
na minha carreira, TODOS, fora o
meu pai, juravam que iam me levar
pra cama.

ASSISTENTE
Você se insinuou pra eles?

A janela de e-mails abre. Um lista de e-mails não lidos
está la. Mariana clica em um. Remetente: The Edge

MARIANA
Nunca! Só na imaginação deles.

ASSISTENTE
Você acha que todo homem é assim.


Lê o e-mail para si mesma.
"Para: toda a lista."
"Assunto: Festa"

MARIANA
Eu não acho. Eles são. Mesmo que
seja inconsciênte.
(pausa)

Continua lendo:
"Preciso saber se alguém pegou alguém. Sexo no
estacionamento, alguém?
Comecem a confessar!
T.E."

Mariana sorri balançando a cabeça negativamente, clica em
responder para todos e escreve:

"Juro que eu fui pra casa sem pit stop no estacionamento.
Tenho testemunhas.

Max"

Fecha a janela de e-mails e levanta, pegando a bolsa e a
chave do carro.

ASSISTENTE
E talento, competência,
cultura?... não conta?

MARIANA
Claro que conta...pra MANTER a
carreira. Mas ninguém reconhece
talento numa loira a não ser que
você pise firme, mostre
segurança, sorria e saiba olhar
nos olhos. Charme amiga. Sex
appeal. Elegância. As pessoas se
aproximam de você num primeiro
momento por atração. Depois pelos
motivos certos.

ASSISTENTE
Não sei se eu consigo ser
assim...

MARIANA
Consegue sim. Seja interessante,
levanta esse queixo, arruma o
cabelo, passa um baton, sobe num
salto e rebola um pouco mais.
Pouco. Não exagera! Se não der,
nasce de novo!

MARIANA (CONT'D)
To no celular. Qualquer coisa me
liga.

A assistente está ainda encarando Mariana, embasbacada.

MARIANA (CONT'D)
Hello?

ASSISTENTE
Tá bom.

Mariana sai do lugar, a assistente ensaia várias maneiras
diferentes de atender o telefone, tentando ser sexy.

ASSISTENTE (CONT'D)
Alo?
(coloca o telefone no
gancho e pega
novamente)
Alo...oi fofo! -- ui que vulgar.
(mais uma vez)
Alo, é a Mariana. Quer me levar
pra cama?

CONTINUA...


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Segunda-feira, Novembro 06, 2006

Dimanche, Domingo, Sunday!

MaClaNa

O Sol traz pessoas e fotos...

Claudio e Na

...barulhos que eu amo...


Marina ...sorrisos incríveis...


Madona
...e a melhor das preguiças.

Sábado, Novembro 04, 2006

Daren & Mariana - Parte I

EXT. DIA

São tres horas da tarde em São Paulo num dia de sol como outro qualquer em 2007, com aquela umidade que mostra que a chuva vem vindo, hoje ou amanhã, mas ela não há de falhar.
Na porta do Hotel onde Daren está hospedado, a equipe inteira se prepara para sair depois de uma reunião para definir o dia de amanhã. Hoje, folga merecida para todos. Foram dez dias de trabalho exaustivo em território estranho, o que torna tudo mais difícil.
Cansado, mas com um sorriso misterioso no rosto, Daren conversa animado, tentando explicar aos amigos porque não vai acompanhá-los na tour pela cidade. Ele mente descaradamente, e todos os amigos sabem disso. Eles trabalham juntos a tempo suficiente para um não conseguir enganar o outro.

Um carro prata estaciona na driveway. O vidro abaixa lentamente e revela o rosto de uma mulher. Os homens todos se entreolham, alguns fazem gracinhas.

MARIANA
Hey! Você?!

DAREN
Eu?
(falando para os amigos)
Sabia que tinha esse tipo de
mulher aqui?

MARIANA
É... Você. Quer uma carona?

DAREN
Pode ser. Onde você vai me levar?

MARIANA
Pro paraíso?

DAREN
(olha para os amigos sorrindo ironicamente,
e anda em direção ao carro curioso)

Não tem lugar pra um cara como eu lá...

MARIANA
Você não sabe nada de paraiso.
Você pode ser rei naquele lugar.

DAREN
Bom…eu conheço a rainha…

MARIANA
Imagino...anda! Vambora.

Daren dá a volta no carro sob o olhar embasbacado dos amigos enquanto o vidro do carro se fecha devagar. Ele entra, MARIANA solta o cinto de segurança e se joga em cima dele num beijo colado e caliente, ao qual ele corresponde sem pestanejar. Ela pega um cigarro, se recompõe, e pede fogo para ele.
MARIANA
Tem fogo?

DAREN
Tá brincando?

MARIANA
E você?

DAREN
(pegando o isqueiro)
Eu nunca brinco.


Ele acende o cigarro dela com um zippo, cheio de truques e malabarismos.

MARIANA
Uou… nice zippo.

DAREN
Não é? Ganhei de uma amiga.

MARIANA
Amiga?

DAREN
É.

MARIANA
Você não parece o tipo de homem que
fica amigo de mulher.

DAREN
Acontece que eu sou exatamente esse tipo de homem.
Minha mãe fez um grande trabalho me educando.

MARIANA
Me fala dela.

DAREN
Da minha mãe?

MARIANA
Não! Da sua amiga…

DAREN
Que amiga?

MARIANA
A que te deu o isqueiro.

DAREN
Ah. A minha amiga! Ela é uma gostosa.

MARIANA
Credo! Isso é jeito de definir alguém?

DAREN
Ah é...se for verdade.

MARIANA
Grosseria.

DAREN
Não é grosseria. Ela é uma das mulhres mais bonitas
que eu já conheci.Você tinha que ver...
até você ia achar ela é uma gostosa.

MARIANA
Ah ta...okay.

DAREN
Tem um cabelo incrível! Eu nunca vou
esquecer o cabelo dela caindo no meu
colo equanto ela fazia um --

MARIANA
(interrompendo)
Hey! Faz favor?

DAREN
O que? Ela era boa nisso, sabia?

MARIANA
(reclamando)
Gostosa...
Quem olha pra cabelo?

DAREN
(rindo)
Eu! Olho, pego, agarro. Adoro.

MARIANA
Ai me poupa dos detalhes, vai. Chega da gostosa.

DAREN
(às gargalhadas)

Não to entendendo a sua reação...o que
tem demais chamar alguém de gostosa?
É GOS-TO-SA! Não tem outro jeito de descrever aquilo.

MARIANA
Só isso que ela é? Uma gostosa?
Ela não tem nada assim...mais humano?

DAREN
Claro! Ela é tão humana que me deixou.

MARIANA
Ah! Isso mostra que ela tinha um cérebro
que podia ser usado junto com a bunda.

DAREN
É. Ela era bem boa nisso também.


MARIANA
To começando a gostar dessa mulher.
O que aconteceu entre vocês?

DAREN
Nada.

MARIANA
Como nada? E o cabelo caindo no colo? Nada?

DAREN
Pois é. Teve isso e outras coisas.
Mas ela foi embora. Então pra ela tudo isso deve ser nada.

MARIANA
O que você fez pra ela ir embora?

DAREN
Nada.

MARIANA
Ah. Tá explicado.

DAREN
Como assim?

MARIANA
Você deve ter feito muito menos
do que ela esperava. Ela cansou
e foi embora. To errada?

DAREN
Um pouco sim. Um pouco não.
Ela não podia ficar comigo…
e eu não podia esperar pra sempre.

MARIANA
Alguma vez você perguntou se ela ainda está te esperando?

DAREN
Você não entendeu. Ela NÃO QUIS ficar comigo.
Ela desapareceu de um jeito que só por um milagre
eu ia conseguir perguntar alguma
coisa pra ela.

MARIANA
Não rola um milagre?

DAREN
Eu acredito em milagres. Você não?

MARIANA
Eu acredito que algumas coisa são eternas.
Que tem histórias que nunca acabam,
que tem pessoas predestinadas...Karma...

DAREN
Eu acredito mais em querer demais e
ir atrás do que se quer.

MARIANA
Faz as contas. É a mesma coisa.
(pausa)
O que você fez quando ela foi embora?

DAREN
(olhando para o isqueiro)
Eu quis por fogo em tudo. Apertei o foda-se.
Fiz festa, enchi a cara, comi meio mundo,
dormi pouco...

MARIANA
Parece divertido.

DAREN
Mas não foi. Foi patético.

MARIANA
Você amava ela?

DAREN
Onde a gente vai?

MARIANA
Amava?

DAREN
Chega?

MARIANA
Fala!

DAREN
Não vou falar nada. Essa mulher apareceu na
minha vida várias vezes. Todas as vezes foi forte,
foi maravilhoso. E desde a primeira vez que eu olhei pra
ela eu fui um adolescente imbecil de tão apaixonado.
E eu tive medo dela, me afastei, mas nunca consegui resistir a ela
quando ela chegava. E quando ela foi embora eu fiquei perdido como
se ela tivesse tirado a única coisa que eu tinha de sólido,
que era essa coisa com ela que eu negava. Eu neguei tanto que deu nisso.
Foi ruim. Não interessa mais se eu amava ou não.

MARIANA
Eu acho que você ainda ama essa garota.

DAREN
Não me interessa.

MARIANA
Garota? Dá pra chamar assim ou ela tem a nossa idade?

DAREN
Ela tem a nossa idade. É só uma criança.

MARIANA (sorrindo)
E se ela aparecer de novo?

DAREN
Você acredita nisso?

MARIANA
Em milagre?

DAREN
Que ela voltaria pra mim?

MARIANA
E se ela ainda te ama?

DAREN
Só um milagre...Ela não quis ficar.

MARIANA
Vai ver que ela tinha medo.

DAREN
Do que?

MARIANA
Sei lá. Talvez ela tenha esperado demais
por você, mas você tinha sempre alguma
coisa mais importante do que ela:
trabalho, filhos, planos que ela não fazia parte…
ela pode ter tido medo de concorrer com tudo isso.

DAREN
Ela sabia que era preciso esperar um pouco.
Eu nunca escondi isso.E os problemas que ela
tinha eram muito maiores do que os meus.
Mesmo assim eu nunca reclamei.

MARIANA
E se ela voltar?
Você vai aceitar ela de volta?

DAREN
It’s not an option.

MARIANA
Ahn? Você não aceitaria?

DAREN
Não existe a opção de não aceitar.
Ela é a mulher da minha vida...
Se ela aparecer sem as pernas,
eu ainda vou aceitar e cuidar dela.

MARIANA
Mas sem as pernas ela não vai mais ser uma gostosa.

DAREN
(gargalhando)
Isso seria um problema!

MARIANA
Então...eu acho que você ainda a ama.

DAREN
Putz...como se ela nunca tivesse ido embora.


Festa

EXT. NOITE - BAR LOTADO - Muitos anos antes

O garçom passa falando alto:

GARÇON
Okay pessoal, preciso fechar o bar.
Não vamos servir mais ninguém, mas quem quiser
pode sentar nas mesas de fora e levar seu copo.


As pessoas se empilham na porta para sair, alguns levando o copo, outros levando a garrafa, mas todos dispostos a ainda terminar seus drinks. Alguns combinam de ir para outro lugar. Outros se despedem dizendo que precisam ir para casa. Entre cabeças e empurra empurra, Daren observa uma mulher vestida de preto, cabelos muito loiros, olhos tão grandes quanto o sorriso. Ele abre caminho pela contra-mão com seu corpo enorme, entre as pessoas que se espremem para sair.

Ele é descomunalmente grande. Não gordo. Grande. Um homem muito alto, com mãos enormes, cabelos claros, pele bronzeada, olhos azuis e gargalhada assustadoramente alta. Tudo nele é um exagero, inclusive o bom gosto. Apesar do tamanho, suas roupas são extremamente cool. Jaqueta de couro, calça jeans meio surrada, meio rasgada, um sapato que revela não só o seu gosto, mas também seu poder aquisitivo, um capacete embaixo do braço que mostra que há uma Harley Davidson estacionada em algum lugar lá fora.

Daren se esbarra contra todos e se aproxima da mulher. Não fala nada, mas fica por perto ouvindo e observando. Ela sente-se um pouco incomodada com a proximidade dele. Há poucos minutos, dentro do bar, uma de suas amigas estava sentado no colo dele numa atitude extremamente vulgar a que ele respondia com vulgaridade ainda maior.

DAREN
Alguém tem chiclete?


Sem pensar duas vezes, ela mete a mão na bolsa, tira uma caixa de chiclete e estica o braço na direção dele. Ele sorri e pega o chiclete, mas na hora de devolver puxa a caixa para que ela não possa pegar. Os dois se olham fixamente.

DAREN
Você é a MAX?

MARIANA
Sou. Você é quem?

DAREN
The Edge.

MARIANA
Ah...então é você?

DAREN
Quer ciclete?


MARIANA pega a caixa de volta sem responder.

DAREN (cont.)
Bom te conhecer, Max.
Vai sair com a gente? Vamos pra outro bar.

MARIANA
Não. Quero ir pra casa.

DAREN
Que pena. Eu ia precisar de mais chiclete.

MARIANA faz uma cara de quem não acha a menor graça e passa por ele em direção ao portão do bar. Daren solta uma das suas gargalhadas, ela olha para ele mais uma vez e vai embora.


INT. NOITE - CASA DE MARIANA

No escritório MARIANA está no computador conversando com amigos na internet. Vemos na tela uma janela de Mensagen Instantânea se abrir. MARIANA fala enquanto escreve.

Ignobil diz: Hey! Você foi na festa?

MARIANA diz: Fui.

Ignobil diz: Ai que inveja...Quem estava lá

MARIANA: todo mundo. Pelo menos todo mundo que interessa. Os mais divertidos. Incrível como a gente imagina todo mundo lindo e interessante na internet...no fim parece a turma de formandos de engenharia.

Ignobil diz: Hahahahha! Isso mesmo.

MARIANA diz: Inclusive uns com uma roupinhas de gerente te banco que ai ai ai!

Ignobel diz: Você conheceu o Edge?

MARIANA diz: Conheci. Bleh!

Ignobil diz: Bleh?? Ele é o máximo!

MARIANA diz: O máximo da grossura. Ele é o cúmulo! Feio, gordo e grosso.

Ignobil diz: Nossa. Você conheceu outro cara...

MARIANA diz: Não... Foi ele mesmo, ele se apresentou. Mas ele é agressivo... Ui! Detestei!!

Ignobil: Você deve estar louca...

CONTINUA...

Sexta-feira, Novembro 03, 2006

Life is Sweet...

Sweets
Photo: Gumballs in Venice
by MgMyself

Yes it is.


Quarta-feira, Novembro 01, 2006

A Mão Grande do Amor da Minha Vida.

minhamao

Desde o dia que eu escrevi essa frase ela não sai da minha cabeça:

" Aos 85 eu vou morrer de amor, tendo a minha mão encaixada dentro da mão grande do amor da minha vida."
Eu sorrio quando penso nisso.
Quem me conhece sabe...eu tenho problemas com mãos pequenas. O maior deles é que a minha é enorme, gigante, absurda!
Para viver ao meu lado, um homem precisa antes de mais nada, ter mãos grandes. Assim...não só no sentido literal da palavra, mas no sentido totalmente abstrato da coisa toda: que a minha mão caiba dentro da mão que me protege. Que a minha mão encaixe na mão que me guarda. Que a mão grande do meu amor me puxe para perto de um só golpe e me mantenha, porque é grande como a alma do dono, grande como a vida do dono, enorme como o meu amor.

As mãos são a primeira coisa que eu olho num homem, mas não posso mentir: já namorei mãos duvidosas...mãos calejadas, mãos franzinas, mãos roídas, mãos preguiçosas, mãos não recomendáveis.

Sinto muito se você tem mãos pequenas e uma alma enorme. Ou se é um grande homem desprovido de grandes mãos. É preciso agigantar as mãos além da alma para andar ao meu lado. Não assim...ao meu lado. Ao meu lado você pode, ele pode, todo mundo pode. Vem aí...anda ao meu lado. Mas assim...AO MEU LADO não! Assim desse lado só a mão grande do meu amor. Chega um pouco mais pra lá. A minha mão direita entra na mão esquerda dele. A mão direita dele na minha esquerda. E assim andamos lado a lado. Hm..não exatamente...seria impossível. Andamos juntos! Como se deve andar. Às vezes ele vai na frente. Às vezes eu vou. E assim a gente vai. E é só assim que eu quero chegar aos 85. Posso até chegar aos 90.

Não adianta explicar. Adianta sentir. Eu tenho a foto da primeira vez que a mão tocou a mão. Está aqui na minha cabeça...nunca se apaga. Sem dizer nada, palma e palma se medem e se beijam:

JULIET
For saints have hands that pilgrim's
hands do touch, and palm to palm is holy palmers'
kiss.

ROMEO
O, then, dear saint, let lips do
what hands do...

Palma e palma são o primeiro beijo. Boca e boca são a consequência. E se as mãos se encaixam com perfeição, toda a vida é como um beijo. E pra sempre, sempre que for preciso, sempre que for hora, sempre que for importante, é hora de medir as mãos mais uma vez e confirmar que, com o passar do tempo, parece até que as mãos às vezes trocaram de lugar. Não se sabe mais de quem é a mão esquerda que segura a direita de quem.
As palmas juntas pela vida afora. A vida dure quanto durar, e que me leve enquanto eu couber inteira na mão grande do meu amor.