Domingo, Abril 25, 2010

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...tempos interessantes - parte 2

Esta é a segunda parte de Tempos Interessantes.
Se você não leu a primeira, clique aqui: Parte 1



"Senhores passageiros,
a partir deste momento todos os
aparelhos eletrônicos devem ser deligados.”

Os dois desligaram seus celulares, se olharam sorrindo, e ele iniciou uma conversa sem limite de caracteres.

“Então…essa viagem…férias?

“Deixa eu pensar como faz pra te contar isso com 140 letras…”
Ele sorriu entendendo a ironia e retrucou.

“Não! Pelo amor de deus, conta usando o máximo de palavras que você conseguir! A gente ta fora da prisão do Twitter!”

"Jura que você não vai desaparecer na terceira frase?”

Ele segurou a mão dela com ar de arrependimento.

“Ai Helo…desculpa. Eu nunca consigo dar atenção pra você direito, sempre alguém me chama…geralmente eu to trabalhando. Desculpa…”

“Eu sei. Ta tudo bem, eu nem te odeio por isso…hoje.”

“Hoje? Nossa…tão ruim assim?”

“Péssimo! Qual dos assuntos interminados você quer retomar agora?”

Os dois riram com a possiblidade de encontrar todas as conversar interrompidas no twitter e retomá-las, e ele voltou à pergunta original.

“E a viagem?”

“Ah…a viagem. Uma amiga de muito tempo vai dar uma festa. Um reencontro.”

“Eu to convidado?”

“Se você tiver um pretinho básico, uma peruca e um salto alto. É um reencontro só de meninas.”

Os dois falaram durante quase toda a noite, sem parar, até os olhos dela não obedecerem mais. Ele percebeu.

“Hey…pode dormir…”

Sem abrir os olhos ela respondeu:

“Teu limite de API acabou?”

“Não, mas a sua proteção de tela já entrou…”

Ela sorriu abrindo um olho só.

“Boa noite…nerd”

“Boa noite, amor.”

“Amor”. Esta era a maneira que ele falava com ela no Twitter, sem se dar conta de que cinco letras eram suficientes para que ela derretesse. Mas nem em seus sonhos mais delirantes ela podia imaginar adormecer ao som desta palavra.

......................


No saguão do aeroporto, a confusão de sempre para pegar a bagagem, muita gente, pouco espaço, malas que não aparecem, outras que aparecem em outra esteira. E os dois.

Quando a mala preta com grandes bolas pink apareceu, ela se aproximou da esteira para pegar, mas ele se adiantou trazendo a mala para junto dela. Repetiu a gentileza trazendo um carrinho e ajeitando a bagagem para ela, mas não se mexeu para pegar a sua própria. Um homem grande, de jeans a camisa branca se aproximou batendo no ombro dele.

“Podemos ir.”

Ele concordou com a cabeça, ainda olhando para ela que arrumava os documentos na bolsa.

“Tem uma caneta?”

Ela não entendeu. "Ein?”

"Me dá o seu celular.”

Antes que ela concordasse ou discordasse, ele pegou o celular da mão dela, discou um número, olhou para ela levantando as sobracenlhas como se esperasse alguma coisa. O celular dele tocou no bolso da jaqueta.

“Ta daa! Pronto…eu tenho o seu número, você tem o meu. Vamos nos falar antes de você ir embora?”

Ele falava enquanto salvava os respectivos números nos dois celulares.

“Isso é uma pergunta ou um pedido?”

“Um pedido… numa pergunta.”

Ele colocou o celular na bolsa dela que ainda estava aberta sobre o carrinho de bagagem. Guardou o outro no bolso da jaqueta.

“ Ok. Vamos sim.”

“Ótimo. Se cuida.”

“Você também. Ah…o que que eu falo pra todo mundo que vai me fazer pergunta no Twitter?”

“Que eu sou burro e tenho mal hálito.”

Ela sorriu e o viu se misturar à multidão que saía do aeroporto. Com um suspiro descrente, ela deu a volta na esteira para ter certeza de que não havia esquecido nada – o que seria normal partindo dela – e foi para fora esperar pela amiga, Marina.

O cheiro da cidade nunca muda. Café, mar, sol quente. Não importa a estação do ano, este é o cheiro que ela sente quando chega e respira fundo, deixando o perfume penetrar em cada poro do seu corpo. Heloísa fechou os olhos por alguns segundos e sorriu… “Minha casa…”

Ao abrir os olhos novamente, procurou por Marina, sem sucesso, olhou em volta e viu Justin próximo a uma sport utility preta que estava cercada de pessoas.
Antes que Justin entrasse no carro, uma loira estonteante de seus 18 anos, com sua calça justa e suas botas altas, o abraçou longamente. Ele levantou a menina, que cruzou as pernas em torno de sua cintura, e colocou-a no banco traseiro do carro.

Aquela estava longe de ser a cena que Heloísa esperava ver, e ao que tudo indica, ele também se preocupou com isso. Depois de colocar a garota dentro do carro, ele correu os olhos pela saída do aeroporto procurando por Helô, que rapidamente disfarçou e olhou para o outro lado, fingindo não ter visto nada. Justin ficou observando a imagem de Helô parada ali: a echarpe bege de bolas pretas envolta no pescoço, a mala de bolas cor-de-rosa deixando escapar seu temperamento alegre, sua risada infantil, e o estilo que não a deixaria passar despercebida em lugar nenhum.

Ele foi até ela.
“Helô!”

Ela se virou, fazendo-se de surpresa.

“Você tem como ir embora? Quer carona?”

“Não…obrigada, minha amiga já deve estar chegando.”

“Tem certeza? A gente pode te levar…”

“Não…sério mesmo…ela deve estar estacionando.”

“Eu espero com você.”

“Justin!”

Gritou a menina, gesticulando de dentro do carro.
Vendo a cena, Heloísa disse.

“Não…Vai…eu to bem…a Marina já chega.”

“Mesmo?”

“Mesmo. Vai.”

Helô ficou olhando o carro de Justin se afastar…e o braço dele que apareceu para fora da janela, acenando para ela. Um suspiro. Isso foi tudo o que deu tempo de fazer antes que Marina encostasse o carro e abrisse o vidro do passageiro.

“Acorda, mulher!”

Helô virou-se rápido e viu Marina, a porta do carro já aberta…

“Entra e me conta TUDO!”

…jogou a mala de bolas no banco de trás, fez o mesmo com o casaco, bateu a porta e entrou no lugar do passageiro. As duas se abraçaram longamente.

“Ai que bom ter você aqui de novo! Você me mata de saudade!”

Heloísa não respondeu, mas abraçou a amiga da maneira mais terna que podia, tentando trazer, de trás da decepção momentânea, o verdadeiro motivo de sua presença ali.
“Eu sinto saudade até do seu cheiro!”
Marina riu e arrancou o carro.
“Ah a mania de cheiro…Me conta do cheiro do “Lives”.

“Ai ai…o cheiro do Lives…o Lives…a voz do Lives…as mãos do Lives…Posso fumar?”

“MÃOS DO LIVES? Como assim? Não muda de assunto…pode fumar. Ta com fome?”

“Não…to empapuçada de comida de avião.”

“Conta.”

“Ele mandou dizer que é burro e tem bafo…”

“Sei…por isso que você tava olhando pra ontem, parada ali, quando eu cheguei: o bafo!”

“Hahah…não. Antes fosse o bafo. Um Halls resolvia.”

“A mão…?”

Heloísa ligou o rádio do carro, apertou o botão do CD.
“O que você anda ouvindo?”

Marina desligou o rádio.
“Desembucha…o que que rolou naquele avião que você ta com essa cara?”

Helô voltou a ligar o rádio, olhou para Marina pronunciando cada sílaba…
“O.que.você.anda.ouvindo?”

Aumentou o som do carro, abriu a janela e colocou o rosto na direção do vento.
Marina franziu a testa estranhando a reação da amiga.

...............................

No final daquela tarde, no apartamento de Marina, Heloísa entrou na cozinha onde a amiga preparava um café.
“Hm…cheiro bom…”

“…de café ruim.” - Completou Marina.

“Não! Seu café é bom. To com fominha…posso assaltar a geladeira?”

“Mi casa su casa.”

Heloisa pegou um prato no armário e uma lasca de queijo na geladeira, encheu uma caneca de café e sentou-se à mesa da copa. Marina ficou encostada no balcão tomando seu café, olhando para a amiga que tinha o olhar distante.

“Você ta mais bonita. O que você fez?”

“Ah sei lá. Acho que são os 30. Meu pai sempre disse que a mulher desabrocha aos 30.” - levantando a sobrancelha ironicamente - “Desabrochei. Hahaha.”

“Você é ‘desabrochada’ desde que eu te conheci, na 6a. série.” – Marina disse, usando a mesma careta irônica de Heloísa. Helô deu risada e voltou a tomar o café.

“Me conta…você sabia que ia encontrar o Lives?”

“Não. Eu entrei no vôo sem saber nem que ele estava no aeroporto, você sabe que ele é um escondido e nunca diz direito onde está. Tá sempre em Londres. Blé…mentiroso ridículo.”

“Mas como foi?”

“Ele me reconheceu…pela foto no celular. Você viu o Tweet dele?”

“Vi…que roubaram o seu iphone.”

“Isso. Foi a hora que ele viu a foto, assim que sentou na poltrona. Foi engraçado…Ele é um bonitinho, todo carinhoso, tímido…um amor.”

“Sobre o que vocês falaram?”

“Ah…sobre tudo e coisa nenhuma. Filme, música, a mulherada do Twitter…”

“Como assim? Ele te contou quem dá em cima dele, quem manda mensgem, essas coisas?”

“Imagina! Ele é um gentleman! Nunca.”

“Ai…ele é um chato! Eu queria saber.

“Pelo amor de deus, Ma…a gente SABE quem dá em cima dele.

Aliás….ele é ELE mesmo né?”

“Você não quer saber essa parte.”

Marina saiu pela cozinha dando pulinhos.

“Ok…respondeu. Ha! Eu sabia! La la la la!”

“Você fica quieta, Ma…não sai falando!”

“Juro juro juro! – cruzando os dedos na frente da boca - Ah! Nunca me enganei!”

“Hahah parece uma adolescente. Por falar em twitter, posso entrar online rapidinho?”

“Claro. Vai lá que eu vou tomar um banho.”

Marina foi andando saltitante para o quarto enquanto Heloísa ia até a escrivaninha no canto da sala de estar.
“Agora que você sabe eu vou ter que matar você.”

De longe, Marina respondeu:
“O que?”

“Posso fumar?”

Marina apareceu na porta da sala, de calcinha e sutian.
“Se você vai ficar perguntado se pode comer, se pode fumar, se pode entrar online, eu vou reservar um hotel pra você, porque eu odeio visita!”

“Aff que grossa!…vai pro banho.”

“Só abre a janela que eu odeio visita que fuma.”

“Hahahah. Desaparece da minha frente, Marina!”

Heloísa abriu a página inicial do Twitter, digitou seu nome e senha e acessou sua conta chocada com o que encontrou. Depois do seu último tweet no avião, recebeu cinquenta mensagens diretas e, de alguma forma, havia respondido a todas, e todas falando mal de Justin.
“Como assim?”

Ela resolveu ler uma por uma suas respostas, tentando entender em que momento Justin podia ter feito esta brincadeira se não é permitido ligar o celular durante o vôo. As mensagens eram assim: “Não quero falar nisso. Vou esquecer que ele existe” “Ele estava cheiroso quando chegou, mas quando tirou o sapato eu quase vomitei!” “Ele é a coisa mais sem graça que eu já conheci” “Por favor, vamos mudar de assunto.”
Mas uma das mensagens, endereçada a Marina, era diferente das outras: “Eu sou, definitivamente, muita areia para o caminhãozinho dele.”

Mais do que rapido ela abriu seu próprio perfil para ver quais foram seus últimos tweets e lá estava uma pérola: “Por favor, gente, sem perguntas sobre @livesnowhere. Vou esquecer que o conheci.”

“Desgraçado!” – Heloísa falou alto, e foi para a porta do banheiro falar com Marina. “Você acredita que o Lives usou meu celular e twitou na minha conta enquanto eu dormia?”

Marina abriu a porta do banheiro com o celular na mão.
“Não minha amada…o Lives tuitou ha uma hora atrás USANDO o seu celular.”

“O que??”

“Uma hora atrás, olha aqui.”
Marina mostrou a mensagem que recebera no twitter. Embaixo estava escrito: "1 hour ago, from mobile" Helô franziu a testa e correu até o quarto. Voltou com o celular na mão.

“Meu deus…ele está com o meu telefone!”
Voltou para o computador e escreveu: "@livesnowhere você estava certo. Alguém pegou o meu iphone.”

Imediatamente chegou uma mensagem de texto que dizia: “Descobri antes de você. Quem é MikeRoss e por que ele te chama de babe?”

Ela colocou as mãos na cabeça e resmungou:
“Meu pai!! Tudo menos isso! Eu vou matar essa criatura!”

Digitou uma mensagem de texto. “Não responde pra ele! E não atende meu celular!”

A resposta veio rápido: “tarde demais…desculpa, BABE. Alguém me ligou?”

Helô falou alto: “Argh! Eu vou matar…ele respondeu pro Mike!!”

Marina morria de rir enquanto se vestia. Mas Heloísa ficou furiosa, largou o telefone e foi conferir se tinha alguma mensagem de MikeRoss - um inglês que mandava mensagens todos os dias, a quem ela não respondia nunca, por achar que ele era folgado demais. Mas não, não tinha nenhuma mensagem do Michael em sua caixa de entrada, porque obviamente, Justin deletou. Ela abriu o perfil de Michael e também não viu nenhum tweet endereçado a ela. Ainda na esperança de descobrir o que Justin fez em relação a Mike, ela voltou às mensagens enviadas e encontrou:
“MikeRoss: stop DMing me asshole. I’m commited.”

Ao ler a mensagem ela soltou uma gargalhada.

“Obrigada, meu amor…eu não faria melhor.”

O telefone de Marina tocou. Era Justin. Helô correu para atender.
“Você é ridiculo, Justin, sabia?”

“Ah…ta brava comigo.”

“Como você descobriu o telefone daqui?”

“Daer…”

“Hm…na minha agenda…Por que você twitou na minha conta?”

“Porque eu precisava telefonar pro meu agente, e descobri que não podia.”

“O que isso tem a ver?”

“Tem que não dá pra resitir.”

“Hm…eu não tinha pensado por esse lado.”


Continua…um dia...

Terça-feira, Abril 13, 2010

_ a cegueira da elite

desenho cripta djan - panico celio

Grande e revoltosa foi a reação à notícia de que pichadores entrarão pela porta da frente na Bienal este ano. Pessoas inflamadas gritaram nos comentários do site da Folha que “lugar de pichador é em cana”, marginais, vândalos, monstros, e daí para baixo.
A frase presente em todos os comentários: "pichação não é arte".
Sei...
Eu vou ser escorraçada, mas preciso falar. Vocês me conhecem...eu falo. Então lá vai.

Que tal a gente começar pela definição de arte.
Aurélio diz:

“Arte: Atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação". Ao que eu acrescentaria: ou repúdio.
"O ser que faz arte é definido como o artista. O artista faz arte segundo seus sentimentos, suas vontades, seu conhecimento e suas idéias, o que deixa claro que cada obra de arte é uma forma de interpretação da vida.", alguém disse em algum lugar.

Todos nós sabemos que a arte é uma forma de expressão que retrata e reflete a vida, os anseios, ou a fúria do artista. Ponto.
No decorrer da história, a definição de arte se ajustou aos interesses dos poderosos de plantão, fossem eles reis, o clero, ditadores, ou o status quo. O fato é que o mundo já calou pessoas mas nunca conseguiu calar idéias, e idéias são escancaradas na arte, quer a elite queira, quer não queira.


O que hoje vemos como arte, como belo, ou como símbolo de uma era, foi muitas vezes maldito, combatido e até proibido. Hoje vemos o expressionismo como algo arrebatador e entendemos a necessidade dos artistas da época de protestar, gritar, incomodar. Mas não foi assim que ele foi recebido, acredite. Sempre houve poetas malditos, músicos rebeldes, pintores que chocaram uma geração.


O movimento punk não foi bonito, nem de perto nem de longe. Foi violento, gritou alto, manchou com uma certa quantidade de violência e sangue as ruas de algumas cidades do mundo e fez mais barulho do que se aceitaria com uma música feia (aos ouvidos da elite) gritando contra valores políticos, morais e culturais. Mas o mundo ficou de luto semana passada com a notícia da morte de Malcom McLaren - o homem que colocou o Punk no mapa. Fora isso, todo mundo já teve uma camiseta com o símbolo punk da anarquia e acha lindo.


Preciso ir mais longe? Acho que não.
O fato é que a arte é um retrato social não necessariamente feito para ser gostado. Assim como você tem o direito de achar horrível, o "artista" tem o direito de dar seu grito onde ele bem entender. Se é esteticamente agradável ou não é uma outra discussão. Quem disse que vivemos uma era bonita?


O "Pixo" é um retrato político da vida na periferia das cidades. O Pichador é uma pessoa invisível aos olhos da elite - elite esta que não sabe e não quer saber que ele existe, não conhece sua história de vida, não dá a mínima para a falta de escolas, empregos e moradias dignas nas regiões em que ele vive.
Estas pessoas com escolaridade precária, vocabulário próprio - quase um dialeto - e sub-empregos, precisavam ser vistas.

O que as massas chamam de vandalismo, depredação do patrimônio público, garranchos, sujeira, é a marca de uma época. Não olhamos para eles antes, agora não temos como evitá-los: estão no alto dos prédios, nos muros, nas pontes, dizendo em alto e bom som: EU ESTOU AQUI.
E me desculpem os cegos, isto é arte, assim como era arte o rabisco do homem das cavernas, o Dadaísmo, o Surrealismo e tudo o que incomodou e transformou o olhar dos acomodados de cada época. É arte e não foi feito para te agradar. Foi feito para deixar claro: "eu existo, eu protesto, eu sou diferente de você".

Goste ou não goste, queira ou não queira, o Picho virou arte reconhecida mundialmente. O pichador Djan foi convidado ano passado para pichar a fachada do Instituto Cartier em Paris e agora você vai ter que engolir a ele e sua "banca" na Bienal de São Paulo.
Acho justo.
Desça do seu pequeno Olimpo e encare o mundo onde você vive. Existe um universo que você desconhece ao redor das grandes cidades, cujos habitantes não são melhores ou piores do que você. Eles merecem o mesmo espaço que você mereceria se tivesse algo a dizer.
Too bad... talvez você não tenha do que reclamar, logo a sua arte talvez não seja tão escandalosa, tão eloqüente, tão urgente quanto a dos pichadores.
Fato: a arte modifica o mundo.

E este nosso mundinho anda precisando de umas mudanças.


Alguém chamado Amauri Wensko comentou na Folha Online de ontem:
"Se pixador é vândalo para quem opina, não entende que vandalismo por vandalismo, seria mais barato e fácil destruir aparelhos de telefone público ou coisa do tipo. Pichação é expressão de quem não tem educação artística, mas não é menos expressão artística e merece algum respeito, pois se existem pixadores é porque não existem oportunidades e orientação. Aos jovens artistas compete ser motoboy ou garçom para sobreviver neste país de injustiças, onde fazer a crítica é muito mais fácil do que entender e tentar mudar as circunstâncias de como e porque se expressar."

E eu aplaudo.


(pode gritar)



Terça-feira, Março 30, 2010

_depoimento impagável


Eu quase nunca entro no Orkut, mas hoje, ao adicionar uma pessoa resolvi ver o que ela veria ao me adicionar. Dei uma passada naquele meu profile super bobo, olhei umas fotos e fui para os depoimentos. Na segunda página, me peguei gargalhando ao ler isso.


"Conheci a Mercedes como Melissa Zimmermann. Foi um mero acaso até eu descobrir que na verdade ela se chama Athina, uma milionária. Me apaixonei na hora.

Depois de conhece-la melhor, hoje tenho medo. Torço pra morrer sendo amigo dela... Se o Google fizer uma pesquisa e descobrir qual é o IP que mais faz pesquisas na internet, ele vai descobrir que é o de uma casa no Brasil que está sendo invadida por carrapatos Micuim e de Capivaras Silvestres. Onde a chefe de família precisa conciliar pegar a filha no colegio e matar uma cobra coral na cozinha. Bem que eu disse que não era facil morar bem na beira da Marginal Pinheiros.

Athina veio ainda criança do espaço. Seu Pai, milionario, comprou um disco voador em Pleide e ela veio sem querer entre os bancos... a primeira visão de sua mãe terraquea foi dela brincando com caca intergalática. Nesse momento nossos destinos se cruzaram para sempre: ela é a fralda, eu a caca.


Melissa é Athina, Athina é Mercedes. E Mercedes é da minha laia pra caralho!
"


Ah! que delícia de história!
Melissa Zimmerman foi uma fake que eu criei sei lá pra que. Provavelmente para fuçar algum perfil sem ser notada. Aí vou dar uma olhada nos e-mails de Melissa, sabendo que nunca haveria nada por lá, e TA DAAA! Uma mensagem. Oh! Como assim? E lá estava PL: "Nossa...quanto tempo!"
Fiquei com peninha de não responder...e respondi alguma bobagem, dizendo principalmente que eu era a Melissa errada, mas era um prazer anyway.
Isso virou uma sequência de e-mails engraçados, inteligentes, bobos e divertidos. Acabamos nos adicionando no Orkut, depois no msn, rindo até de madrugada, compartilhando bobagens engraçadas... Hoje PL é meu amigo, amigaço do meu filho, prometido em casamento para a minha filha (inner joke dos dois) e uma pessoa mais que querida.

Ah...e sem dúvida...Peele Lemos é super da minha laia!


Bom dia.

Domingo, Março 28, 2010

_sobre a fidelidade

É um mega dramalhão. A gente escuta mulheres, desde uma tenra idade, dizendo que jamais perdoariam uma traição. Homens, desde pequenos prometendo sangue em caso de infidelidade.
Aí eu, que sou meio que uma espectadora metida do comportamento alheio, fico aqui remoendo os meus botõezinhos...E se a gente pensasse direito?

Em primeiro lugar, como disse muito bem a Alice Salles, "traição" é a palavra errada para o caso.
Traição é revelar informação secreta. É emboscada desleal. Não deixa de ser um tipo de infidelidade, mas não sei...acho "traição" meio demais. Então vamos aos fatos (ou quase...vamos à minha usual elocubração sobre os fatos).

Para começo de conversa, a fidelidade vai contra todos os princípios da natureza humana. Já falei isso mais vezes do que deveria, mas é o que acredito. Na origem, o homem foi feito para inseminar tantas mulheres quantas passarem na sua frente. A mulher foi feita para encontrar um macho alpha por ano e com ele fazer um filho. Ponto. Depois nasceu a ética e com ela a mentirama.
Falando eticamente, todos nós deveríamos ser monogâmicos e monoteístas e negar toda a diversidade que esse mundo de meu deus oferece. Mas além de prometermos para nós mesmos que somos capazes de afogar a natureza e fingir que ela não existe, ainda transformamos tudo o que é natural em pecado...e fingimos que rezamos para um Deus só. É...um deus só de cada vez, se a gente for contar todos os santos e orixás, e amuletos, e orações alternativas no decorrer da vida.
Pós-ética, o que exatamente faz com que duas pessoas se casem? Amor, certo? Ou pelo menos deveria ser. Então, duas pessoas se amam, mas o câncer dessa sociedade é que as pessoas não se dão conta de que isso - esse amor - e só isso, as une. Nada mais une duas pessoas de verdade. Então, baseado nisso, pode-se dizer que o compromisso entre duas pessoas é afetivo. Sim, não tem papel que segure, não tem filho que segure: casamento é um compromisso AFETIVO e por isso acaba quando acaba o afeto, não interessa se no papel as pessoas continuam casadas ou não.

Então estas pessoas se amam de verdade, mas um dia uma delas conhece outro alguém que a atrai, que a faz sentir como a lá de casa não faz mais, ou não está fazendo neste momento, não por culpa dela, talvez por sua culpa, ou da vida, ou dos dois...mas o fato é que "ai a maldita natureza quando bate, bate forte". E há um deslize. Aí é que entra a minha opinião torta.
O que é infidelidade? Ceder à tentação, ou ser pego? Porque alguém só é oficialmente infiel quando é pego no ato, quando conta tudo, quando a amiga bacana vem e o entrega, ou quando a outra tem um pití e liga para casa do cara para contar tudo para mulher dele. A partir deste momento, o pobre incauto que acabou de cair da árvore e não é capaz de controlar o próprio bim-bim é oficialmente infiel e vai ter que aguentar o ataque da mulher.
A mesma coisa vale no caso inverso.
Então...talvez a traição seja o ato da amiga, ou da outra. Ha!
É...porque você estaria vivendo muito bem, obrigada, se a sua amiga não fosse fofoqueira. Agora você vive com uma pensão miserável, os almoços de domingo ainda são na sua casa, e é você quem fica com as crianças. Então...me conta! Quem traiu quem? A amiga.
Eu francamente não vou querer saber se um dia meu marido me trair. Ele que não venha me contar, porque excesso de sinceridade, meu bem, ou é falta de educação ou crueldade. Deus me livre! Me deixe na ignorância.

Eu não defendo a infidelidade. De jeito nenhum. O que eu defendo é a paz mundial. Pensa: aquelas duas pessoas se amam de verdade. Elas têm filhos. Elas construíram uma história juntos. Quem é você, cara pálida, para entrar no meio disso com uma bomba e espalhar dor por todos os lados? Quer fazer uma boa ação? Chama o traidor para conversar, não o traído. Mas saiba que ele vai falar para sua amiga que você andou dando em cima dele e, babau amizade. Juro.
Então eu acho que o problema da infidelidade não é a infidelidade em si. É a boca grande das pessoas. Juro para você que é isso que eu penso. Errar é humano. Viver em paz é uma raridade. Ser feliz é - às vezes - fechar os olhos e fingir que não viu certas coisas.
Você acha que seu marido anda dando umas voltinhas por aí? Quem sabe você para de ser chata, para de regular mixaria e dá uma canseira nele todos os dias antes de sair para o trabalho...duvido que sobre alguma energia para ele transar com outra. Seria legal também se você parasse de reclamar dos amigos dele, da mãe dele, das manias dele. Tudo isso estava no pacote quando você escolheu esse pobre coitado para viver com você para sempre.
Ah...é a sua mulher que anda estranha? Tá mais magra, toda arrumada, parece mais sexy, sorrindo mais? É...amigo...tem alguém rondando ali e fazendo com que ela se sinta mais bonita. Melhor você começar a fazer isso antes que a vaca vá pro brejo...porque eu vou te contar um segredo: mulher luta contra a tentação com todas as forças, mas se for vencida, ela se joga! Se ela for para cama com outro é porque gosta dele. Se ela gostar muito dele você passa a ser o outro. Então flores hoje? Uma mensaginha de texto mais picante? Namorar, lembra como era? Acho bom.

De qualquer maneira acho isso sim: infiel é quem é pego. Então seguem três conselhos
1. Não traia. Tente melhorar o que você tem em casa, porque dificilmente você vai ter coisa melhor. (Dizem que a vida de solteiro anda complicada hoje em dia)
2. Quer fazer? Faz direito e não conta nem pro espelho.
3. Para de ser idiota que você não quer perder a pessoas que escolheu. (ah quer? Então quem você está enganando?)

Boa semana para você.
:)

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Quarta-feira, Março 24, 2010

_OH MY GOD moments

Não mente...você já pagou micos homéricos nessa vida de meu deus e, mesmo que você se recuse a admitir, a gente sabe. Acho até que a gente viu.
Há momentos em que você duvida da existência de um Deus que te protege, ou um anjo da guarda que, pelo amor de deus, se existisse deveria estar acordado! Ele é pago pra isso: pra evitar que você passe por um momento lastimável que, pós-terceiro milênio, pode ter proporções estratosféricas com o advento da câmera-digital-na-mão-de-qualquer-imbecil.
(As lojas deviam ter psicólogos elaborando testes de imbecilidade em possíveis compradores de celular com câmera, ou mini-câmeras digitais baratinhas e discretas)
Anyway...alguns desses meus momentos eu tenho vergonha de lembrar. Talvez ninguém lembre, mas eu não consigo esquecer.
A eles.

1
. Quando: aos 8 anos
. Onde: na casa da minha tia torta, que tinha uma piscina com apenas 30 cm de água.
. Testemunhas: minha prima e o sobrinho da tia torta - por quem eu era apaixonada
. Fato: Estávamos vestidos com roupas normais, conversando em pé dentro da psicina., água na canela.
Minha prima era magrinha e delicadinha, por consequência, tinha o poder de brincar com os meninos fazendo as mesmas coisas que eles. Ela também tinha vários irmãos mais velhos, o que fazia dela um tanto mais esperta do que eu em quase todos os assuntos - menos em se sentir sem sal e sem atrativos...porque eu era expert nisso.
Sabe deus qual era o assunto, quando eu resolvi fazer uma super demonstração de balet. Fiz todos olharem para mim e soltei uma frase que ainda lembro:
- Olha! olha! Aquelas mulheres assim ó!
Fiz uma pirueta e arrematei com uma grande e fantástica elevação de perna.
Adivinha? Escorreguei na piscina, caí de bunda e bati a cabeça. Quando abri os olhos, minha prima e o garoto que eu gostava estavam se matando de rir da minha cara.

2
. Quando: No mesmo dia
. Onde: no mesmo lugar
. Testemunhas: as mesmas
Depois das risadinhas, eu estava arrasada. A conversa mudou. Os dois, super espertos sabedores de todos os assuntos que eu não fazia a menor idéia, falavam coisas que pareciam grego e davam risadinhas que despertavam os meus instintos assassinos e suicidas ao mesmo tempo.
Quando de repente os dois me cercam no canto da psicina (eu com a roupa molhada, humilhada, arrasada) e ela pergunta de sopetão:
- Você é virgem? É sim, eu sei que é. Hahaahha! (risada malvadona)
Eu entrei em pânico, olhei nos olhos dele procurando por abrigo...mas não encontrei nada além do mesmo olhar acusador dela. Pânico! Pânico! Que diabo é isso? Virgem? Socorro, alguém me chama pra almoçar! E respondi:
- Claro que não, sua burra!

Oh deus...ainda quando lembro disso meu estômago vira. Juro. Se eu não tinha perdido o menino porque era desajeitada e tonga, perdi por que não era virgem, ou porque era bobinha demais pra saber que era. Oh my god moment.

3
. Quando: Algum momento entre 1986 e 1989
. Onde: No restaurante da minha amiga Joana
. Testemunhas: Meio mercado publicitário
Alguém teve a idéia de fazer uma festa brega. O restaurante seria fechado para nós. Por uma necessidade que eu não entendo, tínhamos que vestir a coisa mais brega já vista e comparecer ao restaurante da Joana na hora marcada para rirmos uns da cara dos outros. Oba!

. Figurino: colant verde água de lycra brilhante, com ziper na frente. Meias combinando, da mesma lycra e mesma cor. Jaqueta de couro preta, curta na altura do busto. Muitas echarpes indianas de todas as cores, penduradas no pescoço. Sandália dourada de plataforma, estilo Carmen Miranda (que hoje seria chiquérrima). Peruca castanha canecalon (?) até a cintura. Chapéu de palha com arranjo de flores. Sombra roxa. Batom rosa pink. Isso sou eu.
. Fato: Fiz uma entrada espetacular! Todo o restaurante olhou para a porta quando eu entrei. Mas o restaurante estava funcionando normalmente.
. A parte boa: ninguém me reconheceu...rolou até um concurso para ver quem seria o primeiro a dizer quem eu era. De qualquer forma...Oh my god moment.


4
. Quando: 2007
. Onde: Coliseo, Roma.
. Testemunhas: minha filha e a torcida do Flamengo
. Fato: Andava eu deslumbrada pelas ruínas do Coliseo, admirando a grandeza e tentando sentir a energia histórica do lugar. O dia estava lindo e o vento quente de verão soprava forte, aliviando um pouco o ardor do sol tórrido na pele.
Eis que de repente, sinto um tapa na nuca. Me assustei, olhei para trás, não havia nada.
Mais três passos e outro tapa na nuca. Foi aí que me dei conta de que, quem estava batendo sem parar na minha nuca era a barra do meu vestido.
AH! Me tira daqui!
Eu estava há muito tempo aproveitando o ventinho gostoso nas pernas...e etc...sem perceber que estava dando um espetáculo pornô em pleno Coliseo. Sim sim...vestido na nuca. Você consegue imaginar. Tinha um monte de turista? Claro! era o Coliseo!
Logo atrás de mim, duas meninas se matavam de rir...os outro eu não sei, porque mergulhei na minha auto-defesa-instantânea - leia-se fingi que estava sozinha no deserto - e continuei apreciando a paisagem. Master oh my god moment.

Essa é a minha vida. Tem muito mais...mas eu conto mais tarde.
Bom dia flor do dia.

Sexta-feira, Março 12, 2010

_pensamentos negros

Linda Hamilton - Sarah Connor em Terminator II

Eu tenho pensamentos obscuros. Dark mesmo.
Fora meus sonhos acordada e meus delírios sobre histórias de amor com final feliz, cheias de romance e frases que ninguém ousaria dizer, um lado da minha mente é dark as dark can be.

Nos momentos dark eu penso em assassinatos horrorosos, em quase sequestros, enchentes, vendavais, traço planos completos de sobrevivência, penso nas coisas que eu devia estar aprendendo enquanto da tempo. Depois passa. Depois eu respiro fundo e solto o ar pronunciando a frase: "credo que horror!", e passa. Mas não posso dizer que isso só acontece às vezes. Isso acontece muito.
A primeira vez que me assustei com a minha cabeça foi quando estava escrevendo uma história para um roteiro e resolvi tomar um Red Bull de madrugada. Uma porta se abriu e eu disparei a escrever uma sequência que jamais pensei que fosse capaz. Toda uma tática de assalto, violência, bandidos falando com uma realidade que não sei de onde tirei, tiroteio, carcereiro morto, uma fuga fenomenal de uma delegacia, com um plano perfeito, na noite do ataque do PCC.
Quando terminei, foi como se a entidade tivesse ido embora. Li as 30 páginas, de cabelo em pé, assustada com o que havia saído da minha cabeça.
Mas isso não era tão novo. Eu sempre tive visões assustadoras.
De um tempo para cá eu penso no fim do mundo e no que a gente deveria saber para sobreviver a ele. Não que eu acredite que o mundo vai acabar como dizem os profetas do fim, mas anyway...

Em primeiro lugar, preciso aprender a fazer fogo sem meu zippo ou uma caixa de fósforo por perto. Eu já sou a pessoa que faz fogo na minha casa, mas ainda tenho dificuldade com a ausência de pólvora ou combustível. Segundo, preciso ter uma arma. Ou "umas". Não vai ser fácil sobreviver a todas as pessoas que vão querer roubar o que a gente tem...as pessoas vão matar por uma caixa de fósforos ou uma lata de salsicha. Ou bem pior: por sexo. Essa é uma das partes que me apavora...penso em como proteger a minha filha, e meu estômago revira quinze vezes em meio segundo, só por admitir que o pensamento passe de raspão por mim.
Também preciso proteger o meu marido dele mesmo, porque ele é criança de apartamento e não sabe nada da vida sem o conforto da tecnologia, sem falar nas aulas de física que ele matou na adolescência e hoje fazem falta em situações simples como passar uma mesa por uma porta, ou acreditar que um secador de cabelo ligado numa banheira cheia possa matar alguém. (Desculpa amor, não resisti.)

Então... fogo e armas. Preciso aprender a caçar e descarnar um animal. Saber que bicho pode me matar e qual pode ser comido. Que plantas são venenosas e quais podem me curar de alguma nhaca. O que pode substituir um antibiótico? e um antinflamatório?
Preciso de um carro de verdade. De verdade, leia-se um carro mecânico, sem perfumarias eletrônicas, sem computador de bordo, sem frescuras de segurança. Um carro que funcione mesmo que tenha um cabide de lavanderia no lugar do cabo do acelerador. Que não páre quando o airbag estoura. Que ande com gasolina, etanol, caldo de cana, whisky, elixir paregórico.
E preciso de uma bússola, um mapa impermeável, um tênis que dure pra sempre, um binóculo que funcione decentemente e não pese cinco quilos. Preciso de uma pá.

E eu sei onde me esconder se alguém chegar na minha casa hoje. Tem um lugar para enchente, um para ameaças humanas, um para proteção temporária...E na casa que eu estou construindo tem um mini bunker. Claro que não foi construído para isso, mas dá para passar uns dias.
Eu sei...isso é loucura. Será?
Há séculos alguém inventou a chave, a arma, a polícia, e a gente sabe que deve trancar a casa antes de dormir. Todo mundo tem portão e guarda noturno. Mas a questão é que onde eu moro as casas não têm muros nem portões. A maioria tem zero segurança, confiando na portaria cheia de meganhas armados, câmeras de segurança, rádios e carros de ronda. Mas e se um dia dá uma caca generalizada? Ninguém está mais ao deus dará do que nós, pessoas dentro dos condomínios, sem trancas e sem grades nas janelas.
O que eu sei é que esses pensamentos me incomodam e, mesmo ponderando, a única frase que me passa pela cabeça quando avalio tudo e me acho louca, é: Noé construiu a arca ANTES da chuva.
Pois é. Não custa...
Sei lá.

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...


O dia amanheceu mais triste.



*charge de Marcos Miller - homenagem ao Glauco - http://universohq.blogspot.com/

Segunda-feira, Março 08, 2010

_os soutiens que perdemos no incêndio



Dia Internacional da Mulher. Como foi que ganhamos um dia?

Acho que para responder a essa pergunta, temos que voltar no tempo. Não...não no tempo em que nossas ancestrais recentes foram para as ruas queimar seus soutiens de enchimento, muito mais lá atrás.

Tudo começou debaixo daquela árvore.
Nós demos trela para uma serpente falante e ela nos convenceu de que o conhecimento era melhor do que a vidinha besta que estávamos levando como um simples pedaço de costela customizado. Pois bem, usando nossos artifícios primitivos, seduzimos o rapaz aquele que nos forneceu sua costelinha e fomos embora do Paraíso.
Com ele, claro, porque nós tínhamos o cérebro, mas ele tinha a força, logo éramos mais espertas, logo alguém tinha que fazer o trabalho sujo. Básico.
Mas sabe como é homem...tivemos que pagar pelos serviços prestados, com a moeda disponível na época, o que fez com que acabássemos enchendo esse planeta de filhos. E filhas.
Adão era desocupado e tinha energia sobrando. Muito sexo = muito filho, o que resultou em um número de filhos homens maior do que filhas mulheres, e, sabe deus como, eles resolveram que nós precisávamos da sua força mais do que eles de nossos cérebros, e se rebelaram.

Ai ai ai...aí um deles que era mais inteligentinho - acho que era gay - resolveu dar um trucão. Eva já estava velhinha, entediada, coitada, já não prestava mais muita atenção a nada, e deixou passar a historinha que seu descendente inventou.
Well, o rapazinho saiu falando para todo mundo que Deus - esse foi o nome que ele deu para a cientista que usou seu próprio DNA (costela) para criar um clone que saiu errado a quem chamou de Adão, e numa segunda tentativa, usou o moço para fazer um clone feminino - Deus era um homem, ele disse.

No início Eva até pensou: "Esse menino é retardado. Quem vai acreditar numa barbaridade dessas?"
Pobre Eva, morreu sem saber que a mentirinha colou. Aff.
Agora imagina...um monte de troglodita cheio de músculos com nenhum cérebro, se achando poderoso - imagem e semelhança do criador, etc etc. Boring! Boring e dolorido, porque eles eram fortes.
"Ah, não vai obedecer? Hoje eu não caço para você."
"Quer ficar com o outro olho roxo?"

Mais tarde um pouco, um outro maluco desceu de uma montanha com algumas tábuas de pedra dizendo que Deus - aquela? Duvido! - ditou suas regras e quem não obedecesse iria para um tipo de sala de castigo eterno sem direito a ver a luz jamais outra vez; e nomeou seus comandantes - todos homens.
Bom, nós mulheres nunca tivemos muita paciência, então rapidinho descobrimos que fingir submissão era mais barato do que um motim. Com a dose certa de carinho teríamos casa, comida e roupa lavada (mais ou menos), nossos filhos seriam aceitos mesmo quando fossem daquele bonitão que passou pela aldeia ano passado, e um decote mais ousado poderia nos tirar daquele buraco direto para a tenda do Bam Bam Bam, onde a comida era mais farta, as roupas mais quentes e, principalmente, ninguém ousava invadir.
Essas coisas que hoje tiram comerciais do ar, eram bem úteis naquela época.

Durante milênios foi assim. Mulheres se fazendo de burrinhas e frágeis para se agasalhar, comer melhor, e ter alguém que trabalhasse para elas. Até que...parece que Eva reencarnou.
E reencarnou burra!
Foi quando a mulher resolveu que não podia mais ser assim. O tempo passou, o mundo evoluiu, a mulher já não precisava mais dos músculos do homem e a coisa desandou. A essa altura a sociedade havia se organizado de forma que o homem detinha todo e qualquer poder, enquanto a mulher mantinha-se no aconchego do lar sendo sustentada, promovendo saraus e lendo bons livros, sem poder dar palpite em nada.
Ah a ganância feminina...até o aconchego do lar estava ok. O problema foi o "não dar palpite". Como assim?

Uma geração de Evas rebelou-se e resolveu que tinha que votar. Que não era certo que os homens pudessem escolher aqueles que iriam decidir o futuro de seus rebentos e criar leis que não eram lá muito justas com elas. Mas era só isso Dona Eva. Só isso! O resto estava dando certinho.
Mas não...algumas Evas resolveram querer mais. Queriam ser iguais aos homens, como se fosse possível reverter a natureza - nunca seríamos tão fortes, nem eles tão lindos e brilhantes. Isso a essa altura queria dizer: trabalhar, ganhar dinheiro, ter poder de decisão na vida pública de seus países, ser presidentes, primeiros ministros, ficar mais feias, e outras cozitas más, nem todas dignas.
Então soutiens foram queimados. Sim, soutiens, símbolo máximo do cativeiro feminino, o soutien pagou o pato.
E as gerações futuras também.

O que estava implícito na revolta das Evas era que elas queriam sua dignidade de volta. Nada de homem mandando, nada desse equívoco durar mais tempo. Mas o que elas não sabiam é que há um fator na natureza que faz com que tudo volte à essência de tempos em tempos. Então elas lutaram, se descabelaram, queimaram langeries carésimas, se indispuseram com seus maridos, filhos, pais, padres, rabinos...para tudo voltar ao que era meio século mais tarde, com algumas pioras.
Aconteceu que a mulher foi trabalhar. Conquistou seu direito à igualdade, mas com funções acumuladas. Agora ela é tratada como homem, mas ainda tem cólica e músculos mais frágeis. Agora ela vai para a guerra e morre como um homem. Sai para caçar por comida, mas ainda precisa cuidar da caverna. Algumas não conseguiram ter o marido, mas tiveram os filhos. Conseguiram o emprego mas não o respeito. Conseguiram o dinheiro mas não o poder. O poder, mas não o sono tranquilo...e assim por diante. E agora precisamos de um Dia Internacional da Mulher para lembrar-nos uma vez por ano que somos mulheres, que lutamos por um lugar no mundo, que ainda temos mais conquistas pela frente, e que tudo isso seria bem mais simples se nos uníssemos aos homens ao invés de combatê-los. Opa! Opa! O que eu acabei de dizer? Que ficamos rancorosas e combatemos o que nós mesmas criamos? Céus acho que precisamos de mais dias da mulher pare tentar descobrir outra vez onde foi que erramos.

Ta. Acabou aí? Não! Ainda não falei o que quis dizer com “tudo volta à essência”.
Uma nova geração de Evas nasceu, olhou em volta e pensou: "O que? Moi? Nunca que eu vou ser trouxa igual à minha mãe."
Então saíram e compraram soutiens de enchimento, roupas mais justas de decotes mais amplos; super-valorizaram o corpo, elaboraram coreografias sensuais, mudaram o rumo...e agora permitem tudo o que revoltou as segundas Evas, em prol de casa, comida e roupa lavada. Se fingem de burras - ou são, não sei ainda - jogaram fora as cinzas dos soutiens passados e fazem do sexo seu principal instrumento de segurança e conforto. São milhares. Dezenas de milhares de mulheres que vão levar o nome de Eva para o lixo junto com camisinhas previamente furadas - garantia de uma gorda pensão em curtíssimo prazo e dançar até o chão, chão, chão (é eu sei...eu exagero).
É claro que ainda existem milhões de Evas batalhadoras e bem sucedidas, mas outro tanto não funciona bem assim. Essas são as que estão retrocedendo para a idade média, só que com menos roupa.

E o que virá depois? Voltamos todos para a caverna, ou para o tubo de ensaio, antes que seja tarde. De novo.

Espero que a primeira Eva ressurja das cinzas.



(não me xingue...é só uma elocubração)





Terça-feira, Fevereiro 23, 2010

_à deriva

Dia estranho.
Acordei chateada sem saber por que, cancelei o treino, fui tomar café de cara amarrada, abri o Twitter e tive vontade de xingar uns três ou quatro, não tive paciência para folhear o jornal, não sorri. Mal sinal.

Dirigi, para resolver um problema bem longe, por uma estrada que me fez lembrar como eu gosto de dirigir. Espera! Se eu gosto de dirigir, por que eu não tenho saído de casa?
Eu tenho total consciência de que as melhores histórias que eu escrevi saíram de dentro do meu carro, com música alta e a cabeça nas núvens. Nenhuma aconteceu sentada em frente ao computador. Sério...NEM-UMA. Aí eu páro e descubro que não escrevo mais...então faz as contas: se eu não saio eu não dirijo, se eu não dirijo eu não escrevo. Descobri a pólvora.
Até aí está tudo bem, mas e o motivo? Por que eu não saio? Não saio porque digo para mim mesma que preciso escrever. Ah...sei. Mas se não saio não escrevo, então me explica? Eu não saio porque resolvi parar de escrever?

Nessa linha de raciocínio tudo fica mais complicado. Por que eu não escrevo? Por que eu engordei? Por que eu empurro tudo com a barriga? Por que eu não voltei no médico? Por que eu parei de treinar? Por que eu não vou na produtora? Por que eu não vejo meus amigos? Por que eu não vou para Curitiba? Por que eu não vou ao cinema? Por que eu não fui ao casamento da filha da minha amiga em Los Angeles? Por que eu não pego aquele avião na sexta-feira e vou com o meu marido para onde ele vai? Por que eu não vou ao shopping? Por que ainda não troquei as coisas que comprei no Natal? Por que, por que, por que?

Auto-sabotagem.
Hoje de manhã quando eu estava no carro e o Black Crows estava berrando, eu olhei a hora no painel do carro: "23-02-2010 11:20am".
O que? VINTE E TRÊS DE FEVEREIRO DE DOIS MIL E DEZ? Como isso aconteceu? Faz um ano e um mês que o meu pai faleceu? Faz um ano que eu não escrevo? Faz um ano que abandonei meu livro, meus roteiros, meus interesses, meu corpo, minha pele? Pra que?
Abandonar a mim mesma não vai trazê-lo de volta! Eu sei disso. É muito óbvio...muito. Mas eu não consigo descobrir onde ir buscar o que eu preciso para retomar a vida e encontrar os quatrocentos e poucos dias que já se foram. Eu tenho pressa, mas não tenho força.

Não sei o que dizer...é estúpido, é tão estúpido. Eu, a rainha de jogar bóias para salvar todo mundo, não consigo encontrar meu bote salva-vidas. Estou à deriva nesse laguinho que não há de ser tão imenso, mas que parece um oceano sem fim.
Preciso encontrar o norte.
Hoje.

Segunda-feira, Fevereiro 15, 2010

_improvável

Me interna se um dia você me encontrar numa das situações abaixo:

. saltando de asa delta
. na fila da montanha russa
. numa roda de samba
. vestida para o carnaval (se não for um biquini ou um pijama)
. desfilando na avenida
. num show da Ana Carolina
. me deliciando com um bife de fígado acebolado
. fazendo trilha, escalada, rapel e outros esportes radicais que necessitem de uma carteirinha da FUNAI com carimbo recente
. acampando
. no cinema vendo filme da Xuxa
. viajando com excursão
. Fazendo um cruzeiro desses que estão na moda agora, que nunca tem lugar na piscina, a comida é meia boca e a música é péssima. (sete dias trancada num navio sem poder fugir? socorro!)
. Indo para qualquer lugar que tenha G.O., palestra de auto-ajuda, atividades interativas, e essas coisas para gente solitária.
. num jogo de futebol

Tenho dito.

Terça-feira, Fevereiro 09, 2010

_domésticas


Já se foi o tempo que meus assuntos eram nobres.
A vida real me engoliu de um jeito que derrubou meu ar de semi-deusa e eu agora tenho problemas de simples mortais. E meu problema agora chama-se empregada.

Então, estou em busca de uma. Eu já tenho a Ritinha, mas ela está ficando obsoleta. Depois de oito anos, ela virou patrimônio da família e a gente não deixa que ela faça serviços mais pesados, nem nada que possa piorar a situação já lamentável da coluna dela. Ritinha é protegida de todos nós e ponto. Preciso de alguém para fazer o que Ritinha não deve fazer, sem Ritinha perceber...ou seja: Ritinha não é mais exatamente uma empregada. É a tia que cozinha bem e vem aqui todo dia.
Uma vez eu tive a Luzia. Luzia não era uma mulher, era um SER de dois metros por dois e meio. A circunferência do peito dela fazia a fita métrica ficar deprimida. Forte como um leão, carregava qualquer coisa sozinha, arrastava piano, subia escada com qualquer peso, e limpava minha casa como ninguém. Mas eu tive que mandar a Luzia embora para ela não ir para a cadeia, depois de roubar e facilitar o roubo de um incontável número de objetos eletrônicos de fácil comercialização da minha própria casa: máquina fotográfica, PSP, GPS, barbeador, fotômetro....pera! Fotômetro não é fácil de vender! Mas ela levou...o fotômetro e o manual em inglês. O manual em japonês ela deixou pra mim. Além de levar todas essas coisas e deixar as bolsas, cases e embalagens, para que a gente levasse tempo para dar falta, ela também mentia. Mas mentia! Me pediu dinheiro para tirar a mãe do hospital...aos prantos. Emprestei o dinheiro para ela e uma semana depois a mãe liga:
- Como vai? A senhora está melhor?
- melhor do que?
- a senhora não esteve no hospital?
- Deus me livre, minha filha, eu não passo na porta de um hospital há 30 anos, graças a deus.

Eu devo ter a palavra "TROUXA" piscando em neon na testa.
Anyway...juntando Rita e Luzia, pode-se criar uma nova língua. Tanto na fala, quanto na escrita, o talento para criar palavras é incrível.

- Olha um pudinho! (filhote de poodle)
- É um circo viçoso... (acho que dispensa tradução)
- Ele é um INS-PRI-TO de porco! (assim so-le-tra-di-nho)
Na lista de supermercado: manregicão, varge, ribingela (what?), bolbril, verja, indinzinfentanter, sarzinha e sebolim, molo choi (shoyu), papel ingenco (ou ginenco, depende do dia). E meu santo nome, que varia de DôMercê a DonMecedi também dependendo do dia.
Mas a melhor história de todos os tempos veio da Luzia: existe uma doença que dá em recém-nascidos chamada "Mar de Marcioto". Mar vem de Mal. Então é marrr, R com som de "ãr", pra dentro, de caipira.
Então o irmão dela "quase arruinou" quando nasceu, porque pegou mar de marcioto, mas a mãe dela - que deve ser tão macumbeira quanto ela - sabia uma simpatia que é a única coisa que cura mar de marcioto depois que "os médico desengana". Simples: você leva a criancinha para debaixo de uma árvore, tira a roupa dela e coloca ela - a criança - direto na terra...na grama, ou o que for. Aí você pega uma faca (aqui você insere a imagem da minha cara horrorisada ouvindo a história) e corta a criancinha...NÃO! não a criancinha...você vai cortando a terra em volta da criancinha, fazendo o formato dela. Aí, você desenhou a criança na terra, então a doença passa pra criancinha desenhada...e você pode tirar o seu nenem dali que ele ta curado. Isso! Você enganou a doença. Ha!
Eu passei dias tentando achar no google qualquer nome de doença que fosse parecida com Marcioto, sem nenhum sucesso. Mas ela continuou dizendo que eu podia perguntar pra qualquer médico que eles sabem, e sabem que não tem cura.

A vida era mais divertida com a Luzia por perto. Ela fazia macumba pra chover, pra parar de chover, pro Claudio acordar logo que ela tinha que ir embora cedo, pra tudo e pra todos. Pra mim inclusive. Acendeu mais vela na minha casa do que todos os terreiros de Salvador em dia de Nosso Senhor do Bomfim. Mas eu ria mais naquela época.

Pós Luzia, já passaram três por aqui. Nenhuma delas divertida, nenhuma delas trabalhadeira, todas sensíveis demais...e eu preciso de alguém ontem.
Agora me resta entrevistar empregadas e não existe coisa mais bizarra do que uma entrevista de empregada. Segundo o Franc Souza, não precisa pedir currículum nem perguntar qual é o livro de cabeceira. Este seria o questionário padrão:

1) Usa muita Q Boa?
2) Omo ou Minerva?
3) Com pense ou sem pense? (pensa no que faz de almoço?)
4) Sabe diferenciar roupa branca de roupa de cor?
5) Poblema ou pobrema?
6) Sabe fazer bife a milanesa ?
7) Feijão?
8) Arroz soltinho?
9) Arrumar cama?
10) Persegue a novela?
E eu acrescentaria:
11) fuma? (Por que eu fumo...mas odeio cheiro de cigarro, então empregada minha não fuma nem la fora!)

É um saco...
A gente quer saber com que a filha namora, se é de família boa, se tem vícios ou não; analisa a ficha cadastral dos clientes, vive investigando tudo e todos para não dar passos em falso, mas na hora de escolher empregada vale sempre o mesmo critério: ir com a cara. E lá vou eu errar de novo com certeza, porque eu não nasci pra isso...isso tem que ser passageiro. Help!





Letreiro de letras miúdas igual àqueles de final de comercial de varejo de carro que tomam metade da tela:
Amiga, se você/sua mãe/avó/tia/vizinha é/foi/talvez venha a ser empregada doméstica, saiba que este texto não pretende ofender a ninguém, muito menos a você. Se você fez faculdade graças ao esforço da sua mãe/avó/tia/você mesma, acho lindo. Mesmo! Mas por favor não seja chata e não poste comentários me chamando de preconceituosa porque, quer sua mãe/avó/tia/você mesma queira quer não, existem empregadas engraçadas e o fato de você não gostar não muda isso. Se seu problema for com o termo "empregada" sinto comunicar que "empregada" é a nomenclatura usada para denominar "empregada doméstica", o que não acontece com "assistente" ou "secretária" que são funções totalmente distintas, exercidas fora do ambiente doméstico . Eu não gosto e não uso os termos politicamente corretos porque acho todos eles mais preconceituosos do que tudo. Preto não é moreninho nem de cor, até porque é de cor PRETA ou MARRON no mínimo. Gordo não é fisicamente avantajado, é gordo, que vem de gordura, que é o que faz ele ser gordo. Fisicamente avantajado é haltereofilista, esse também fica impotente, mas é outra historinha. Velho é idoso, não é "da melhor idade". Melhor idade é 30, é 25, é 40. 80 é a pior idade. Então vamos combinar que empregada é cargo e não xingamento. E não vem ser chata no meu blog porque, antes que eu me esqueça: 1. talvez o preconceito esteja na SUA cabeça e não na minha 2.esse papo é muito chato fora da novela das oito - que também é chata.




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Terça-feira, Fevereiro 02, 2010

200mil200mil200mil200mil


200.000

HITS

neste blog!



Obrigada a todos os fiéis escudeiros.

Parabéns a todos os envolvidos (eu).

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_dilúvio


Depois de quarenta dias de dilúvio, o dia amanheceu lindo. Eu, que fui dormir às quatro - já que meu relógio biológico diz que se estou sozinha na cama não posso dormir - levantei às dez, coloquei um biquíni e "UEBA! Vou torrar no sol."
Mentira... sentei na frente desta tela que vos fala para fazer um pagamentozinho.
Ora, ora, ora, senhoras e senhores... pagamentozinho é coisa que não existe. Basta digitar a senha de 6 dígitos para descobrir muito mais a fazer na desgraça do bankline.
E assim fui eu, de biquíni, rabo de cavalo e havaiana, resolver todas as engronhas e pendengas e, meu deus! Alguém avisa pra vida que eu odeio ser adulta?

Os quarenta dias de dilúvio me fazem pensar no inevitável fim do mundo. Do meu mundo.
O meu mundo é sequinho... ou deveria ser. Meus hábitos são os de um ser humano vivente no sudeste do Brasil na primeira década do milênio, que anda de carro, pisa em terra firme e não convive com restrições do tipo alarme de furacão. Não VIVIA!
A única coisa que falta são os alarmes, porque tempestades daquelas que a gente só via nos filmes do Flipper ou no Discovery Channel, agora são a nossa realidade... só sem os abrigos.

E eu estou ficando velha e louca (ta. louca eu sempre fui) porque, sem querer, me pego fazendo planos de sobrevivência. "Vou trazer cobertores, lanterna, um galão de água mineral e comida para o andar de cima. Mas e fogão? Não posso comprar um fogão senão vão descobrir que eu sou louca..." "eu devia deixar dinheiro vivo em casa... vai que inundam todos os Bancos 24h da cidade... se faltar luz não tem como tirar dinheiro com cartão. Preciso de um jipe." E por aí vai... e nem vou contar até onde vai ou vou ser interditada para sempre.

O lago ao lado da minha casa já conversa comigo. Fico em estado de alerta quando ele fala mais alto. Dá para escutar o chiado furioso dele jogando a água que sobra, no rio Tietê que também fica furioso quando chove demais. Ele fica de mal humor, eu fico apavorada. Ele fica calminho, eu durmo sossegada. Durmo sossegada e sonho com a minha casa nova lá no alto do morro, longe de qualquer riacho, córrego, cachoeirinha, olho d'água, whatever.

De quem foi a idéia de construir uma metrópole na beira de dois rios? Que falta de visão de futuro meu deus do céu. Pensou o que? Que ia ter engenheiro alemão trabalhando na prefeitura?
São Paulo é totalmente portuguesa! Basta ver que a saída das pontes das marginais é ANTES da entrada. Aí a gente vê na TV "160 quilômetros de lentidão na cidade de São Paulo". Claro! Fica tudo embolado na saída das pontes... inverte a entrada e a lentidão não vai passar de 30 quilômetros, em horário de rush.

Mas deus me fez loira, publicitária e escritora... não adianta querer dar palpite em urbanização, encanamento, instalação elétrica, telefonia, internet, logística, nada. Sempre tem alguém para me olhar com cara de "quem você pensa que é, sua....loira?!" Só a Sabesp que resolveu a cachoeira de cocô da minha garagem, porque o engenheiro me escutou.


Anyway... fora o mundo externo que acaba a olhos vistos, tem o meu mundo interno que está tão voltado para a vida prática que anda vazio de sentimentos que me inspirem a escrever.
Só me resta fazer meu kit de sobrevivência e mudar para o andar de cima da casa.
Estou tentando... juro que estou.

Volto logo.
Prometo.

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Quinta-feira, Janeiro 21, 2010

Final semi-feliz

A princípio, o efeito que eu queria causar na pessoa que copiava os meus posts era o seguinte:

. "Nossa, eu não sabia que não podia copiar."
. "Ah...então quando eu posto o texto de alguém tenho que colocar o nome e o link?"
. "Puxa, foi mal. Vou colocar seu nome lá...relaxa."

Mas nem tudo são flores nesse mundo de meu deus e não foi bem assim que aconteceu. Por volta de 1:30 da madrugada, meu espírito de Sherlock Homes encontrou no Orkut a Mônica Carvalho. Uma menina de uns 17 a 19 anos ou algo por aí, loira falsa que nem eu.
Não...espera! Deixa eu contar como. Eu li o blog dela I.N.T.E.I.R.O para saber exatamente o que ela fez com os meus textos. Alguns foram publicados na íntegra, outros foram estuprados sem dó nem piedade, algumas estrofes de poemas viraram título, trechos de textos meus foram jogados no meio de textos dela sobre assuntos diversos. Incrível a capacidade da pessoa de dissertar sobre os meus assuntos só pra encaixar um parágrafo que gostava em algum lugar.
Well...lendo os posts eu procurei por comentários. Uma tristeza...unzinho aqui...outro lá longe. E cliquei no perfil de cada pessoa que comentou. Algumas não existiam, mas outras sim. Entre elas, a amiga: Thalyta. Deixei um comentário no blog da Thalyta e só de madrugada me toquei de procura-la no Orkut. Bingo! Dois segundos depois eu estava na página da Mônica Desavisada Carvalho.
Fui lá e deixei um scrap simpático (cough) sobre as consequências do erro dela e sobre a denúncia que eu fiz no Google já que o blog não tem perfil nem e-mail.
Aí veio o efeito inesperado e desesperado.
1. Pânico - "voubloqueartodomundo!" - perdi o acesso à página dela em 3 minutos.
2. Pânico - "Vou deleta meu blog" - Meu deus!! Dois anos de blog jogados no lixo! Ah...lembrei...ela tem o arquivo dela aqui.
3. Pânico - "Vou deletar meu Orkut!"

Gente...que desespero é esse? Eu não sou uma serial killer de adolescentes loiras! Não precisava desaparecer do mapa. Espero que a essa altura ela não esteja se jogando da ponte, fazendo mudança, trocando número de telefone. A perseguida sou EU! Eu que tinha uma "Mulher Solteira Procura" há dois anos usando as minhas palavras e querendo ser igual a mim quando crescer. Eu devia estar com medo.
Aí tem gente que diz que eu devia pelo menos estar sentindo uma felicidade mórbida por ser admirada (Alana). Hello! Eu não sou tão boazinha...eu tenho sim essa vaidade mórbida no fundo da alma, mas vamos combinar que o que ela fez foi falta de respeito.

Agora, depois de ver o pânico da menina, eu até acho que ela fez por inocência - embora super mal intensionada (a mãe de todos os oxímeros). Ela devia achar que ninguém nunca ia descobrir o meu blog. Mas outra vez: Hello? Eu tenho quase 200.000 acessos. Será tão difícil assim encontrar um texto meu por aí se tanta gente vem aqui? Inocência! Com certeza.

Enfim...this is the end.
Next?

Beijo amigo no seu umbigo.

P.S. Mônica...menos.

Quarta-feira, Janeiro 20, 2010

Blog que me copia

Cara dona do blog
http://assimdonossojeito.blogspot.com/


Já que 90% do seu blog foi escrito por mim, gostaria que você me desse sua senha para que eu possa corrigir as alterações que você fez no texto "alô!" que eu escrevi dia 16 de fevereiro de 2009 e você copiou dia 1 de Dezembro. É que eu não gostei dos nomes que você colocou nele, desculpa...

Seria legal também você me emprestar a senha, pra que eu possa colocar uma observação em cada post com o meu nome. Uma coisa simpática, do tipo "texto de Mercedes Gameiro"...nem vou colocar o link pro Caixa, porque todo mundo conhece.

Enquanto isso, vou me adiantar e colocar o link para cada post meu no seu blog, pra que as pessoas possam lê-los em vários lugares...E já aproveito para te lembrar que meus textos são registrados e só por isso você não pode copiar sem colocar meu nome neles, ta?
O bom de linkar um blog com o outro, é que fica mais fácil pro investigador de internet ver as provas do que você está fazendo.

Eu sei que reclamar de post roubado é super Internet 1.0...mas roubar (oops) copiar post sem dar crédito também é, sabe...coisa de amador. Por isso resolvi te ajudar a limpar a sua barra pra não ficar feio, né? Você deve saber meu email, então manda a senha logo ta bom?

Obrigada.

Aqui estão os links para os textos escritos por mim e postados por essa pessoa que tem um blog meu:

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/2009_09_01_archive.html#7636454359425437046
Outro: A segunda parte deste post: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/12/taila-diz-0102-eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee.html

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/#3409456603498023352
Outro: A terceira parte deste post: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/12/taila-diz-0102-eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee.html

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/2008_10_01_archive.html#4526946460617817818
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/12/mudancas.html

TPM: http://tepeeme.blogspot.com/2006/11/luz-da-varanda-e-o-sol.html
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/11/todos-os-dias-eu-venho-ao-mesmo-lugar.html

Caixa: http://tepeeme.blogspot.com/2006/11/luz-da-varanda-e-o-sol.html
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/11/mas-jura-jura-mesmo.html

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/#7914506256269727721
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/11/romeu-juliet.html

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/2006/10/so-back-home.html
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/10/sempre-foi-dia-claro-de-primavera.html

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/2007/09/sobre-envelhecer.html
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/10/sobre-envelhecer.html

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/2006/12/texto-de-natal.html
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/10/o-natal-ja-esta-chegando-eu-ainda-nao.html

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/2006/11/about-blur.html
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/10/about-blur.html

Caixa: O titulo é meu - http://www.caixapreta.com.br/blog/2007/08/todo-dia-dia-de-poeta.html
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/09/queria-voltar-janela-do-velho-sobrado.html

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/2007/02/vida-leva-eu.html
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/09/sobre-sonhos.html

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/2006/11/lenda-da-chuva.html
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/09/sobre-tempestades.html

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/2006/12/insanity.html
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/05/insanity.html

Caixa: http://www.caixapreta.com.br/blog/2009/06/e-la-nave-va.html
Outro: http://assimdonossojeito.blogspot.com/2009/07/e-la-nave-va.html

Bom...são 5:30 da manhã e eu não tenho mais paciência pra me irritar. Ainda tem muita coisa lá e isso que eu ainda estou em Julho de 2009, andando de tras pra frente, e ela me copia desde 2008. Pior que a pessoa estupra o texto sem dó nem piedade.
Então assim....caso você veja isso antes de eu acordar, ou põe meu nome nos textos ou deleta tudo, porque eu não gostei nem um pouco da "homenagem" anônima.

E vocês, meus amigos, têm uma missão: bombardear a pessoa com comentários, por favor.

Beijo e bom dia pra quem dorme.

Domingo, Dezembro 13, 2009

_dark

Tenho muitos segredos. Tenho muitos pecados.
Metade de mim é bondade, a outra é escura, guardada, velada. Não sei dizer se é metade ou se são layers: o que a superfície mostra não é o que a superfície guarda - ou é a trama de uma membrana antiga, um tecido trançado pelos ancestrais que mescla os fios e transforma em seda o que era linho bruto.

Eu seria psicopata se fosse religiosa. Eu seria bruxa se não fosse preguiçosa. Eu seria cientista para não enlouquecer. Eu tenho respostas e preguiça das perguntas. Dentro de mim dançam seres sombrios e outros iluminados. Em volta vivem anjos e o equilíbrio que eu provejo, o que eu invento e o que eu projeto.
Eu sei e nasci sabendo o que não posso contar, a não ser em capítulos esparsos, em frases jogadas, em textos esporádicos. Acredite: é mais fácil pecar quando se sabe o endereço exato do inferno. É mais fácil perdoar quando se sabe onde exatamente mora o céu.
Eu sei quem sou...e isso não é bom. Não sou especial. Não sou rara. Eu sou antiga.
Me cansa a filosofia. Me cansa a teologia. Me cansam as teorias da nova era. São todos textos antigos...notícias velhas. Eu ouvi o que foi pensado na mente do mundo antes do mundo existir.
O universo é as vezes um grande museu de idéias antigas soletradas errado...
Eu queria a euforia da descoberta.

É, eu sei...você não faz idéia de porque eu escrevi isso. Relaxa...é só um Domingo de chuva.


Bom dia.

Domingo, Novembro 29, 2009

Guerreiros

Brahma - Lista de Desejos
Direção: Claudio Borrelli

video

Domingo, Novembro 22, 2009

E lá se foi a verdade...


Essa semana eu descobri uma coisa incrível: a palavra testemunho, em inglês testimonial, vem da Roma antiga, quando, ao jurar dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade, era tradição que os homens colocassem a mão direita sobre os testículos.
Certo. Faz todo sentido!
Você arriscaria perder os próprios testículos por uma mentira? Claro que não. Ao menos eu não, se fosse homem.
Então, o que valia na Roma antiga? Qual o "objeto sagrado" sob a qual ninguém ousaria jurar em falso? A HOMBRIDADE. Um homem tem de ter culhões para honrar sua palavra...e assim deveria ser até hoje.
Mas aí chegou o imperador Constantino e sua fome de poder e manipulação (ai ai ai como eu tenho uma birra com essa criatura) e criou a Igreja Católica Apostólica Romana. Aí ele mudou uma datazinha aqui, outra ali...depois queimou alguns livrinhos, inventou umas historinhas, adicionou a ressurreição em alguns evangelhos...there you go: Habemos Bíblia.

Eu não faço a menor idéia de quando começamos a jurar com a mão na Bíblia e nem por que razão estranha isso garantiria que alguém fosse verdadeiro sobre os fatos, mas não é preciso ser brilhante para afirmar que foi uma invenção do mundo ocidental, pós 1.600; depois de a Espanha decidir, em acordo com o clero e alguns reis da Europa, que todos nós teríamos que acreditar num único Deus e em seu filho Jesus Cristo, mesmo que fôssemos índios, esquimós ou aborígenes, do contrários seríamos "purificados" e essa purificação, com toda certeza, seria um tanto forte e acabaríamos mortos. Bacana. Eram tão legais esses espanhóis, que D. Fernando, Rei de Espanha, inventor da Santa Inquisição - e da obrigatoriedade de ser cristão - virou santo. Não é incrível? O cara manda matar meio mundo, caça judeus e muçulmanos, acusa todo "infiel" de ser feiticeiro e ter parte com o demônio, queima todo mundo em praça pública...e é santo. Adoro a história da Igreja Católica...acho incrível que alguém ainda....bom...esquece.

Voltemos ao que interessa. O fato é que alguém em algum momento decidiu que - perdoe a expressão - suas bolas não são algo tão sagrado, então é melhor jurar sobre a bíblia. Pensando bem, é mais fácil. Deus está tão longe...capaz de nem dar tempo dele perceber que você mente.
E eu acho, do fundo da minha já conhecida revolta, que deveríamos fazer os homens voltarem a colocar a mão direita sobre seus preciosos saquinhos para jurar alguma coisa. "Eu, como homem que sou, juro que..." E nós mulheres? Nós juraríamos sobre o ventre - que protege nossos filhos, acolhe nossos homens, cria nossa força. E não vem discordar não, porque o seu cérebro não funciona direito quando seu homem a abandona, seu filho adoece, ou você está morrendo de cólica. Você não pode jurar com a mão na cabeça, porque quando você está de TPM, sua cabeça é a oficina do diabo. E quando você estiver na menopausa vai dar umas piradas sem precedentes. Então fim! Põe a mão direita na barriga e jura que não vai postar comentário de feminista rancorosa!

É isso, senhoras e senhores. Quero voltar aos tempos em que a Hombridade era mais importante do que qualquer instituição. Quero ver nossos políticos todos enfileirados no dia da posse, como uma grande barreira na frente do gol, jurando agir decentemente e cuidar dos interesses do povo que os elegeu.

Tenho dito!






Terça-feira, Novembro 17, 2009

Romeo & Juliet

Epitáfio - Conto nº2
Publicado no MgWritersClub em 22.06.2007


Entregamos nossos corpos, por não precisar deles para eternizar o que sentimos.
Entregamos nossas vidas para que sejamos livres.
Entregamos nossas almas para amar para sempre.

Entregamos um ao outro o que somos e o que fomos.

"Eyes, look your last!
Arms, take your last embrace!"



Carla e Jonas

˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚

Carta lacrada, encontrada na bolsa de Carla

Para
Glorinha Lacerda
Em mãos


Glorinha amada,

Eu preciso contar pra você o que aconteceu de verdade.

Sei que posso, porque você vai entender e não vai contar pra ninguém, porque sempre foi minha melhor amiga, sempre me escutou com paciência e acreditou em mim.
Tudo não passou de um acidente, Glory, juro. Mas ninguém acreditaria em mim. Eu sei disso. Tenho certeza.
Desde pequena ninguém acredita que eu faço coisas sem querer. Desde a vez que quebrei um vaso da minha avó e ela fez queixa para a minha mãe dizendo que eu era dissimulada, sonsa, que fingi que não fui eu. Glorinha, foi tão injusto! O vaso caiu e quebrou quando a Vó não estava em casa. Eu tinha ido na padaria comprar o que ela tinha pedido em um bilhete escrito antes dela sair. Quando ela chegou, eu não tinha voltado ainda e o vaso estava quebrado. Ela perguntou para a empregada quem foi, e a empregada não sabia. Ninguém sabia mesmo…Eu cheguei em casa e, antes de eu poder contar, ela já começou a brigar, dizendo que eu não podia quebrar as coisas e esconder... Você sabe bem o resto.
Foi sempre assim. Sempre. Você sempre viu. Mesmo quando alguém mais estragava alguma coisa, ela dizia: “Essa menina não pode ser tão estabanada! Pra mim ela faz de propósito!”

E essa é a lenda que reza na minha familia. Agora, como eu poderia contar o que acabou de acontecer? Eu não queria acabar com tudo dessa maneira, Glorinha, mas acho que é a saída mais bonita.
Presta atenção:
Eu e o Jonas fomos a uma festa ontem à noite. A festa foi divertida e nós bebemos um pouco. (Você sabe que ele exagera, né?) Dançamos um monte, rimos muito e ele me convidou para encompridar a noite. Viemos para esse hotel. Você precisava ver que lugar legal! Pedimos a maior suite. Glorinha!, dava pra fazer uma festa pra 200 pessoas aqui dentro. É a Disneylandia inteira só pra nós dois. Tem até máquina de fliperama!
A gente chegou, brincou de tudo o que tinha pra brincar, caímos na piscina, fizemos melhor de três no flipper, fizemos sauna, comemos tudo o que tinha no frigobar, bebemos champagne, nos divertimos demais. Depois tomamos um banho e dormimos um pouco.

Quando a gente acordou, o Jonas resolveu brincar um pouco mais pesado. Ele tinha umas balas (você sabe de que bala eu to falando). Ele tomou uma e deu uma pra mim. Ele também cheirou e tomou mais um negócio que eu não sei o que era, mas eu não. Dançamos um monte…depois transamos um monte…e depois mais, depois mais. Ele estava completamente doido, e eu chapada demais. Quando começou a baixar, vimos um filme. Depois, estávamos conversando na cama e ele parou de responder. Glorinha! Assim, do nada! Do nada, ele parou de responder. Eu chamei ele e nada! Eu sacudi ele, e nada! Eu gritei! Eu bati nele! Eu joguei água fria na cabeça dele! Glorinha!!!!!!! Eu quis chamar uma ambulância, mas não adianta. Eu fiz tudo o que eu sabia: boca a boca, massagem cardíaca. Eu girtei, gritei, gritei! Glorinha, o Jonas não se mexe! Ele não responde! Ele morreu, Glorinha! Morreu! Ele está ali na cama, sem vida, gelado!!! Eu acho que ele nem está mais ali naquele corpo. Ele foi embora, Glorinha!
Eu pensei em chamar a polícia, a gerência do hotel…mas não vou.
Eu não vou ficar aqui para ser acusada de fazer tudo errado. Eu não vou sentar e esperar que me apontem o dedo:
" Olha a namorada do drogado do motel! Louca! Promíscula! Drogada!"
Eu não vou esperar que alguém diga que foi tudo culpa minha! Vão querer me internar numa clínica. Eu não sou viciada! Mas quem vai acreditar, Glorinha? Só você. Eu não vou esperar que a minha avó comente com as amigas da minha mãe que eu sempre fui um problema. “Ah…Ela era uma sonsa!”
Então amiga, só você sabe a verdade. Foi um acidente.
Tão horrível... A única coisa boa é que o Jonas estava muito feliz. A noite foi linda. Tudo delicioso...

Depois de pensar por horas, vendo o Jonas, lindo, deitado ali, tão tranquilo, eu decidi que vou junto com ele. Eu sei que ele vai me esperar. Pedi papel e envelope na recepção e resolvi escrever, eu cheirei tudo o que ele tinha na mochila, amiga, e tomei as outras balas. Cinco. Vou ficar por aqui até começar a me sentir estranha e vou deitar ao lado de dele, esperar que ele me pegue pela mão.

Desculpa por isso, minha amiga. Eu te amo demais.
Não conta pra ninguém esse segredo, ta? Deixa eles pensarem o que eu vou fazer eles pensarem.
Não fica triste comigo. Nem fica triste por mim. Eu vou ficar bem.

Um beijo enorme.
Se cuida bem cuidadinho…
Da sua eterna amiga,


Carla

P.S. Fala baixinho pra minha avó que "desta vez, sim, foi de propósito."


˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚˚

Esta carta foi usada como evidência na defesa de Jonas Ferreira de Andrade -
acusado de tráfico de drogas, aliciação de menores, cárcere privado e homicídio doloso da menor Carla Schimidt. O acusado foi inocentado das acusações mais graves, mas cumpre pena de 3 anos por tráfico de drogas.